Para quem não sabe essa é a minha terceira faculdade, sem contar as especializações que eu fiz no Brasil. A faculdade aqui é bem fácil, muito mais do que eu imaginava. Por exemplo, eu já fiquei com A de média em três matérias relacionadas com a língua inglesa (Speech, Information Literacy e English Composition I) enquanto americanos ficam com B e C, e muitos até são reprovados. Uma coisa interessante é que 80% das notas são compostas de trabalhos enquanto os exames valem no máximo 10%. O restante é presença e participação. Mas a matemática foi o que mais me impressionou e vou contar o porquê.
Eu não consegui que a minha faculdade pública no Brasil enviasse aqui para os EUA um histórico discriminativo do conteúdo dos Cálculos I, II, III e IV que cursei na FATEC-UNESP em SP. Por conta disso, eu tive que cursar College Algebra aqui NOVAMENTE. Fiquei muito desanimado, mas ao mesmo tempo curioso de saber como seria o curso ou como este seria ensinado. Qual seria o método pedagógico? Tradicional, construtivista ou outro? O professor, Mr. Bartlett é uma figura, no mínimo, intrigante. Mr. Bartlett só tem um braço e o outro é um gancho como o do Capitão Gancho no Peter Pan. Munido de pensamentos positivos me danei para o primeiro dia de aula.
Mr. Bartlett é um ótimo professor |
As aulas não técnicas aqui na faculdade são de 4 horas da mesma matéria. Muito cansativo. O pequeno “break” a cada 50 minutos nem sempre é respeitado. As aulas são somente uma vez na semana. E a matemática? Básica demais. Ficamos semanas fazendo exercícios de regras de sinal, contas com fração do tipo ¾ + 1/3 e assim por diante. As listas de exercícios de lição de casa são imensas e poucos fazem. Enquanto o professor explica a matéria para os alunos eu já vou fazendo a lição da semana que vem. Desde a hora que chego (8 da manhã), até por volta das 11 da manhã eu já terminei toda a lição. E o que isso me custou? 15% da nota diminuída por não participar e não prestar atenção! Justo...
Descobri, perguntando para os outros alunos que, equações e gráficos que eu ensinava para os meus alunos da antiga sexta série (atual 7º ano), eles só aprendem no Ensino Médio! (antigo colegial) Fiquei pasmo e confuso. São os americanos atrasados ou nós brasileiros que ensinamos coisas para crianças de 12 anos que não fazem o menor sentido? Eu não tenho essa resposta...
Realidade do Ensino Fundamental do Brasil e Ensino Médio nos EUA. Somos adiantados ou irracinais? Sinceramente eu não sei... |
É evidente que a escola pública americana está atrasada em relação às boas escolas particulares do Brasil e adiantada em relação à escola publica brasileira onde, pasmem, pessoas saem do Ensino Médio sem saber escrever, graças ao nosso maravilhoso e inovador sistema de ciclos “anti-repetência”.
O único projeto interessante que Mr. Bartlett propôs foi uma simulação de aquisição de casa própria calculando os juros, valor principal, anos de financiamento, etc. Somente 4 alunos em 25 entregaram. Lógico que eu entreguei.
E nos exames como me saí? Mesmo sendo professor de matemática por uma década não obtive 100% em todos os exames. Do tempo de 1 hora permitido para o exame eu usei 5-10 minutos e claro, cometi erros de distração. No primeiro exame eu fiquei com 10,6 (todos os exames tem pontos extra-créditos). No segundo que eu demorei mais fiquei com nota 11. O terceiro com 9,6 (outros erros de distração). Mr. Bartlett sabe meu nome e ministra suas aulas olhando praticamente só pra mim. O que me deixa chateado porque na maior parte do tempo eu estou fazendo a lição de casa. Mas outra coisa me deixa mais chateado.
A primeira vez que tiro 11 em uma prova. :) |
Primeiramente o que me deixa chateado é que 50% dos alunos vão embora na metade da aula. Embora ele advertisse contra o “maldito celular” a todo momento um toca. Às vezes duas ou três vezes o celular da mesma pessoa! Uma falta de respeito total com ele e com os outros. Mas isso parece ser uma característica dos hispânicos(99% portoriquenhos) da sala. Não se importam com ninguém. Levam seus laptops, assistem desenho e de vez em quando o som dispara e tira a atenção da classe inteira. O professor não fala nada. Assim como no Brasil, as instituições particulares estão de certa forma, nas mãos de quem paga. E escola particular nenhuma quer perder aluno. Nem mesmo o professor que, se assim acontecer, pode perder o emprego também.
Mas deixe-me contar um pouco o que os hispânicos fazem na sala de aula. É preconceito da minha parte identificá-los assim? Alguns dirão que sim, mas preciso diferenciá-los dos outros que, em 90% dos casos, são educados. Vou fazer uma lista do que tenho observado. É claro que isso não é uma regra mas é o que a maioria faz. Eu sei que tem a ver com educação, cultura latina que é mais descontraída. Sei que muitos nem percebem o quanto incomodam. Uma senhora chamada Carmem que é portoriquenha tornou-se uma de minhas melhores colegas da escola. E ela também se irrita com as atitudes do próprio povo. Outro dia ela disse no meio da aula para umas garotas: “não é à toa que temos essa má fama aqui nos EUA” Mas como estou na terra do freedom of speech vamos lá:
1- Chegam atrasados todos os dias. Uma garota outro dia chegou às 12:15. Vale dizer que a aula começa às 9 e termina à 1 da tarde.
2- São extremamente barulhentos. Assim que chegam, com a aula em andamento, arrastam a cadeira, derrubam uma série de coisas e ainda falam “droga!” alto.
3- Conversam o tempo todo inclusive dão risadas.
4- Não colocam os telefones no vibra. O telefone da mesma pessoa toca no meio da aula até mesmo 3 vezes!
5- Saem na metade da aula.
6- Não fazem a grande maioria daslições e trabalhos. Alguns não fazem absolutamente nada.
7- Assinam a lista de presença e colocam no meio das coisas deles. O professor tem que parar a aula e pedir que todos olhem em seus materiais em busca da lista. Sempre o fulano ou fulana “sem querer” colocou no meio das coisas deles. Acontece em quase todas as aulas. Ai meu estômago...
8- Pedem tudo emprestado e “esquecem” de devolver.
9- Todas as mulheres acham que são a Jennifer Lopez (com 20kg a mais). Uma delas me disse que adora o Brasil. Adora o Carnaval, o samba, funk e os biquines fio dental. Ela sabe vários passos de Funk. Finíssima... (Quanto mais eu fujo do Diabo...) Fui convidado para uma festa das meninas portoriquenhas da minha classe em um restaurante e resolvi não ir porque, como dizia minha avó, "quem anda com porco come farelo..." Fiquei sabendo que eles foram expulsos do restaurante porque fizeram guerra de comida. (???)
10- Falam muito mal o inglês. Às vezes não se entende o que dizem embora vivam nos EUA por anos. Uma delas outro dia que vive aqui por 15 anos me perguntou sobre meu Baum. E eu..o quê?? Seu Baum, como você fez? Excuse-me?? Baummmmmmmmmmm (e fica nervosa sabia??). Ela queria dizer Bathroom (banheiro, que se pronuncia béthrum) :@
11- Só falam espanhol na escola e se você permitir, obrigam você a falar com eles na língua deles. Falam mal dos professores em espanhol no meio da aula (de alunos americanos e outros também). Um dia falaram de mim e eu olhei diretamente pra elas. Ficaram pálidas...
12- Têm uma atitude de despeito. Sempre têm algo de negativo a dizer sobre o trabalho de qualquer aluno que não seja hispânico (como eu) e torcem o nariz quando você recebe uma nota 10. Nos trabalhos de baixa qualidade (feitos em 30 min) de colegas de mesma nacionalidade acham todos os pontos positivos na hora da crítica e acham injusta e preconceituosa a nota do professor e críticas positivas dos outros alunos.
13- Não importa quão espetacular o meu trabalho ou de qualquer outro aluno não hispânico esteja eles vão dizer: “Não gostei”.
14- Reclamam de tudo. São preguiçosos. Outro dia pediram pra eu dizer que não tinha feito o trabalho também, assim a professora não poderia dar zero para a classe toda. É lógico que eu disse não. E ainda aproveitei pra dar um sermão sobre educação, civilidade, responsabilidade, etc. Eles me odeiam eu sei.
Ou na Route 66 |
Chega não é? Outro dia eu disse ao Robert que vou terminar o curso com uma úlcera de tanto nervoso que eu passo na escola. Foi realmente uma decepção ver a atitude dessas pessoas na escola. Conversando com o Robert ele me disse que na escola dele é a mesmíssima coisa. Eu fico calado porque não quero apanhar no meio da rua, entende? Mas é claro que mesmo a maioria se comportando assim, alguns são exemplo de educação como a Carmem e a família dela. Desculpe se esses meus comentários ofenderem alguém. Não é minha intenção, só quero mostrar a realidade e as coisas que observo todos os dias na faculdade. Demorei 2 anos para me convencer que essa era a atitude da maioria.
Por essas atitudes muitos estão sendo expulsos da escola pelo governo americano. A regra é: Se você tem um empréstimo com o governo (98% de todos os alunos têm) e está estudando às custas dos impostos que população paga, só pode repetir no máximo, 10 matérias por ano, seja lá quem for. 10 matérias por ano????? Eu não reprovei nenhuma em 2 anos?! Muitos repetem 9 em 6 meses e daí têm que sair da faculdade porque é evidente que não estão aproveitando o curso. E quando este terminar terão usado 100 mil dólares do dinheiro público que, é lógico, não irão restituir. Calote na certa! Às vezes eu comento com eles. Se vocês soubessem quanta gente pobre no Brasil gostaria de ter a oportunidade que vocês têm de estudar com financiamento de 100% dos estudos... mas pouco adianta.