Férias...tem coisa melhor? Mesmo que sejam de 2 semanas e com alguns trabalhos e lições.
Eu estava muito ansioso por estas férias. Em primeiro lugar, porque no “break”
passado, passei todos os dias ajudando um amigo a pintar um apartamento, 8 hs
por dia. Agora sim, sem nada para fazer posso curtir as centenas de
possibilidades. Não que a minha vida seja perfeita, que eu não tenha problemas
e desafios, mas acredito que tudo é uma questão de escolha. Posso escolher
pensar nas coisas que não tenho, como as coisas são difíceis, como a falta de
dinheiro, no momento, não me permite fazer um milhão de coisas e ficar choramingando
por aí... Mas posso escolher pensar nas coisas que tenho, nas minhas
consecussões, e no grande rol de possibilidades à frente. Sim, podemos escolher. E como os pensamentos alimentam a alma e o espírito,
escolhi alimentar-me de coisas positivas e... cozinhar.
A
cozinha sempre foi parte fundamental da minha família. Começando pela minha avó
Lídia que era uma cozinheira de primeira. Filha de portugueses imigrantes,
sempre derivou muito prazer em cozinhar e eu cresci ajudando-a a fazer muitas
coisas e acabei por pegar gosto pela cozinha também. O mais difícil, na minha opinião, é assar. É um mundo à parte, complicado, cheio de opiniões conflitantes. Eu
sempre desejei saber fazer um pão daqueles, sabe? Daqueles iguais aos que minha
mãe faz e que todos adoram. Tentei algumas vezes, mas não fui bem sucedido. Tinha
medo da receita dela até antes de ontem, sábado.
Aqui
nos EUA há infinidade de pães no supermercado. Temos também padaria dentro
deles, onde você pode comprar o pão feito no dia. Pães de todos os tipos, com
opções de sementes, recheios, etc. Mas eu queria fazer o meu pão. Já no Brasil
é difícil comer um pão caseiro gostoso, que não seja muito denso, muito duro e
outra inabilidade qualquer do padeiro(a). Mas o pão da Dona Marilena Mascarenhas
(mamãe) é imbatível. Dom? Eu prefiro acreditar que é o resultado de pura insistência
até chegar no ponto da perfeição. Eu mesmo vi minha mãe tentar por anos. No
começo, os pães tinham que ser consumidos no mesmo dia. No dia seguinte viravam
pedras. Os pães que ela faz agora permanecem macios e tenros por 10 dias.
|
Padaria do Publix |
Pesquisei
muito sobre o assunto, estudei os tipos de fermentos, assisti os chefes em
vídeos do Youtube e percebi que há muita contradição nas informações. Uns falam
da segunda fermentação, outros desconsideram e os pães ficam lindos. Uns dizem
que é preciso sovar à mão, outros fazem só na batedeira, ainda outros usam os
dois. Uns ensinam dar um murro na massa após a primeira fermentação, outros
gentilmente, colocam a massa direto na forma. O que fazer com esse mundo de
informações conflitantes? Já sei, seguir a receita do melhor pão caseiro que já
comi. O da Dona Marilena, que não é chefe, mas é cozinheira reconhecida na
pequena e pacata cidade de Águas de Santa Bárbara(SP).
Imbuído
de muita coragem e determinação fui para nossa minúscula cozinha (3x3m) tentar
mais uma vez a receita da Dona Marilena Mascarenhas (esse nome não é o que há?), que compartilho com todos aqui no blog:
Ingredientes
- 3 ovos grandes
- 1 xícara de óleo vegetal
- 1 colher de sopa de açúcar refinado
- 1 colher de sopa de sal
- ½ litro de leite morno (da geladeira direto para 1 min no microondas)
- 1 envelope de fermento seco fermix (aqui nos EUA usei 2 envelopes do RapidRise Highly
Active Yeast)
- 1kg de farinha de trigo e mais um pouco (se precisar)
|
Encontra-se em qualquer supermercado dos EUA |
Modo de preparo
Coloque
no liquidificador os ovos, óleo, açúcar, sal, leite morno e o fermento. Deixe bater
por aproximadamente 2 minutos. Junte o líquido à farinha e sove a massa até ela
ficar elástica ou desgrudar totalmente das mãos. Deixe crescer até que uma bolinha de massa dentro de um copo
com água suba à superfície. Enrole os pães e deixe crescer por mais uma vez. Pincele
os pães com gema de ovo. Asse em forno alto até que os pães estejam dourados.
Quer
mais fácil do que isso? No entanto, quem já tentou fazer pães sabe que é mentira não é tão
simples assim. Portanto, como sou pessoa generosa, compartilharei aqui os
truques ok?
Truques e detalhes
Penere
a farinha de trigo para que ela seja “oxigenada”, ou seja, para que entre ar
naqueles pequenos pedacinhos que parecem pedrinhas. As bactérias do fermento precisam de oxigênio para a fermentação. Como eu tenho uma batedeira
KitchenAid com gancho, eu bati a massa nela por aproximadamente 2 minutos. Por se
tratar de muita massa, a mesma não desgrudou das paredes do pote de metal, por
isso tirei a massa de lá e sovei por 5 minutos à mão colocando um pouquinho de farinha
até que a massa não grudasse mais nas mãos. A massa ficou lisa e elástica,
muito bonita. Coloquei em uma vasilha para crescer e a bolinha no copo com
água. Cubri a massa com papel filme (para não ressecar) e coloquei vários panos
de prato por cima. A massa cresceu (nos 24ºC dentro de casa) em 1 hora. A
bolinha subiu à superfície do copo. Mágica? Claro que não, as bactérias comeram a massa e liberaram gases que fizeram com que a bolinha boiasse...
|
No Brasil custa por volta de 2 mil reais. Eu paguei
199 dólares na Target, o que os americanos acharam um
absurdo... |
|
Essa foto é de uma outra tentativa com uma massa
menor... |
Sem
medo de ser feliz, tirei a massa da vasilha de plástico, e amassei com as mãos
mais algumas vezes. Por orientações da mamãe, cortei pedaços do tamanho de uma
laranja grande e enrolei até que formassem tiras compridas. Com três tiras, fiz a trança como se faz com cabelo. A massa toda deu para dois pães grandes e
um pão pequeno que eu fiz com duas tiras enroladas. Deixei crescer por mais 45
min cobertos com filme e panos de prato. Aos 30 minutos liguei o forno elétrico
à temperatura de 460F ou 240C. Ao final dos 45 min eles já estavam bem maiores
que as magras tranças que havia feito.
|
A massa que sobrou enrolei duas tiras e ficou assim |
Quebrei
um ovo inteiro em um prato fundo e adicionei 1 colher de sopa de água. Bati o
ovo e pincelei os pães. Assei os pães até ficarem dourados o que se deu em
menos de 30 minutos. Os pães ainda cresceram dentro do forno. Após saírem do forno
foram diretamente para um tupperware fechado o que prevene que a água evapore dos pães e estes fiquem secos e duros. Agora só faltava experimentar.
Estou vingado! Recebi o diploma de padeiro
(quem me dera!). Os pães ficaram deliciosos, tenros, macios. Hoje de manhã eles
ainda estavam com a mesma textura e maciês. Coloquei uma fatia na torradeira e
a manteiga derreteu sobre ele. Um dos pães foi direto para o casal da casa ao
lado que nos presenteou outro dia com um bolo de chocolate e cheasecake. Eles
simplesmente não acreditaram que eu tinha feito aquele pão.
Tá pensando o quê?
|
êita orgulho do pai... |
|
Claro, depois teve também bolo de chocolate, pudim de nozes,
pastéizinhos de belém e muffins de maçãs...kkkkk |
Louise, Robert e os vizinhos disseram que este foi o melhor pão caseiro que já comeram na vida. No país dos cegos do "compra pronto", quem tem um olho faz pão em casa é Rei!! Rá!
;-)