Análise do texto de Sueli S. Do blog
FashionSpill.com
Ontem recebi um comentário de um leitor dizendo ter ficado muito desanimado após ler o texto citado.
Assim como milhares de pessoas que tem o sonho de viver nos EUA, Ricardo, após
ler o texto sentiu-se desanimado devido à quantidade de informações negativas
citadas no post. Ele, gentilmente, pediu que eu desse a minha opinião sobre o
texto. O que o texto fala é verdade mesmo? É realista? O American Dream morreu depois da crise de 2008?
Em muitos sentidos o texto é
realista. Eu não conheço a autora, não sei o que ela faz ou mesmo os motivos
que a levaram a escrever o post. Muitas coisas que ela escreveu são a pura
realidade, outras informações estão um pouco desencontradas.
Você há de concordar comigo que,
da mesma maneira que quem vive no Brasil e vem de férias aos EUA tem uma
pequena percepção do que é realmente morar, trabalhar e viver aqui, da mesma
forma, quem vive nos EUA, tem uma pequena percepção do que também é morar,
trabalhar e viver no Brasil. Assim como quem está de férias nos EUA não
consegue ter uma visão completa do assunto e só vê a organização, educação,
eficiência em muitos sentidos e outros pontos positivos, quem vai de férias ao
Brasil, também (me parece, lendo blogs de brasileiros que vivem nos EUA),
concentra-se nos pontos positivos como a comida brasileira, a amistosidade do
nosso povo, a beleza natural e muitos outros pontos positivos e não citam nada de negativo.
Veja este exemplo. No texto
mesmo, ou nos comentários, há a declaração que no Brasil a escola é de graça e
a faculdade pública também, coisa que não acontece nos EUA. No entanto, vá na
USP ou faça uma pesquisa e veja quantos % dos alunos da USP, UNESP e das
Federais, veio de escolas públicas? Quais são as chances de quem cursou o 1º e
2º graus na escola pública brasileira, de enfrentar o terrível vestibular e
ingressar em uma faculdade pública no Brasil e estudar de graça? Há no Brasil,
neste sentido, uma inversão malígna na minha opinião. Quem fez as melhores
escolas, faz faculdade de graça. Quem estudou na escola pública e não pode pagar, a maioria
esmagadora, terá que pagar pela faculdade.
Este é um exemplo de informação
desencontrada que percebi lendo o texto. Mas eu não estou aqui para começar a
apontar os problemas do Brasil para os brasileiros porque, os brasileiros sabem
muito bem quais são e sua realidade.
O que não acho correto, em nenhum
sentido, é a visão tacanha ou totalmente direcionada. Pessoas que moram no
Brasil e que acham que os EUA é uma maravilha ou pessoas que moram nos EUA e
acham que o Brasil é uma maravilha. Parece-me que quem está de fora, vê o que
quer, não concorda? Como vai haver quem diga que o inferno deve ser um lugar
ótimo para se bronzear. A realidade é que não existe país perfeito, mesmo os
mais ricos tem alto índice de suicídio. Há exemplos de pessoas que se deram mal
nos EUA e pessoas que se deram bem. Não é possível fazer um julgamento total da
situação de um país, baseado em uma amiga (da escritora) que tem 3 faculdades e
nunca conseguiu emprego nos EUA. Assim também como não posso julgar o Brasil porque tenho um amigo advogado que trabalha vendendo pastel na feira. Ou só porque alguém escreveu um artigo e
publicou na internet dizendo que o American Dream morreu, não significa que
isso seja referência ou mesmo a verdade. E isso tanto vale para o Brasil como para os EUA.
A Sueli fala desde o princípio
que escreveu o post para "pessoas que desejam largar tudo no Brasil e
imigrar ilegalmente aos EUA". Neste sentido, quase 90% do que ela diz pode virar a realidade do imigrante, principalmente depois do 11/9 e da crise de 2008. Se você tem o desejo de viver nos EUA, deve ler com cuidado o
texto dela, o meu e de muitos outros antes de tomar sua decisão. O texto dela é
longo e tem mais de 60 comentários aos quais eu li todos. Inclusive muitos
brasileiros vivendo aqui, nos comentários, discordam dela. Este provavelmente
será o post mais longo de todo o blog e já de antemão aviso, que tentarei
deixar a "minha opinião" de fora e se basear em fatos, tomando muito
cuidado com BIAS, que infelizmente, permeia o texto da Sueli. Todos nós temos
Bias e algumas vezes não percebemos que nosso ponto de vista está permeado de BIAS.
Bias is
an inclination of temperaments or outlook to present or hold a partial
perspective at the expense of alternatives in reference to objects, people, or
groups. Anything biased generally is one-sided and therefore lacks a neutral
point of view.
Pré-conceito (separação minha, como conceito
pré-estabelecido): Preconceito (conceito pré-concebido) é uma inclinação de
temperamento ou a perspectiva de apresentar ou manter uma perspectiva parcial
em detrimento das alternativas em
referência a objetos, pessoas ou grupos. Tendenciosa nada geralmente é
unilateral e, portanto, carece de um ponto de vista neutro.
O Dicionário
português, em uma das alternativas de significado diz:
4 Social: Atitude
emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização,
determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos.
Então aqui está meu desafio.
Escrever uma análise livre de crença, opinião ou generalização. Será que eu
consigo?
Em primeiro lugar teremos que ler
o artigo publicado pela Sueli S. no seu blog. Como o blog dela não permite a
cópia de textos, é preciso ler no próprio site. Aqui vai o endereço:
Se quiser, deixe duas janelas abertas porque pretendo comentar cada subtítulo
O
Sonho Americano está morto.
Em primeiro lugar, o que é o
sonho americano? Existem várias definições para o American Dream. Basicamente
isso quer dizer que os EUA é o país das oportunidades, lugar que uma pessoa
pode conseguir sucesso e riqueza com trabalho árduo. É assim mesmo? Como eu
disse no princípio, nada deve ser concluído com exemplos individuais. O fato de
alguém ter se dado bem nos EUA não significa que o American Dream está vivo e o
contrário também não significa que morreu. Para que pudéssemos responder essa pergunta, talvez algumas
semanas de pesquisa seriam necessárias. É fato que muito americanos perderam
seus empregos durante a crise e não conseguem encontrar outro. No entanto, como
é que há 12 milhões de imigrantes ilegais trabalhando e sobrevivendo de uma
maneira ou de outra? Vale considerar...
Eu vejo americanos moradores de
rua. Eu vi, na minha faculdade, duas pessoas moradoras de rua estudando.
Existem moradores de rua no Brasil que teem essa oportunidade? Também não sei,
mas confesso que fiquei impressionado com o fato. Tanto aqui como no Brasil existe assitência a pessoas de rua, mas a maioria (como vi aqui na TV) não deseja ser re-encaixado mais na sociedade e existe teorias que explicam o fato. Porque é que todos os moradores de favelas no Brasil não se tornam moradores de rua? Porque certos indivíduos tem a força e motivos para lutar pela vida e pelo sustento de sua família, outros não. Por esse motivo existem moradores de rua em TODOS os países. Até na Suiça, Noruega, Austrália e outros países considerados dominantes do IDH (falo dele a seguir). Um aumento no número de moradores de rua seria observado após crises financeiras ou mesmo guerras.
O que eu estou querendo dizer é
que moradores de rua, gente pobre, tem nos EUA também. A única informação que eu
consegui a esse respeito são informações sobre a linha da pobreza nos EUA. É
considerado pobre nos EUA quem ganha menos de USD 23,021.00 anuais para uma
família de 4 pessoas. Segundo este site, mais de 46 milhões de americanos estão
nessa posição. Uma conta bem rápida mostra que 15% da população nos EUA está abaixo
da linha da pobreza.
Mas a linha da pobreza em cada
país é calculada de maneira diferente. Por exemplo, no Brasil, diz-se que uma
pessoa está abaixo da linha da pobreza se ganhar menos que R$ 70,00 mensais. Esse
valor vezes 4 pessoas, vezes 12 meses dá um total de R$ 3.360,00 anuais para
uma família de 4 pessoas. Neste sentido há, pelo menos, uma diferença no conceito
de pobreza no Brasil e nos EUA. Nos EUA uma pessoa que ganha menos que USD
479.60 mensais é considerada como vivendo abaixo da linha da pobreza. No Brasil só é considerado abaixo dessa linha quem ganha menos que R$ 70,00 (aproximadamente 16 milhões de pessoas). E quem ganha
R$ 678,00 (salário mínimo), quase dez vezes mais que 70 reais, não é pobre no
Brasil? Qual o número (ou %) de pessoas no Brasil que ganham entre 70 e 678 reais? Nunca encontrei esse número...mas tenho receio (e tristeza no coração) de pensar que podem ser mais que 46 milhões de brasileiros.
E o que isso tem a ver com o
American Dream? Com a crise de 2008, ficou mais difícil para os americanos
viver o American Dream. Consequentemente, para qualquer outro tipo de pessoa
vivendo nos EUA. Sem documentos então nem se fala. No entanto, os dados do
mercado imobiliário americano mostram que o número de imóveis negociados
aumenta a cada ano após 2010. Voltará ao que era antes da crise? Ninguém sabe,
talvez nunca volte. E quem é que disse que só é possível ser feliz com casa própria?
O índice de desenvolvimento
humano IDH também é outro fator a considerar. O índice de desenvolvimento
humano, feito pelas Nações Unidas, mede, na linguagem indouta, a
qualidade de vida e oportunidades de um indivíduo em cada país. Veja a lista e
tire suas próprias conclusões:
Very High
Human Development
|
High
Human Development
|
Medium
Human Development
|
Low
Human Development
|
No entanto, lembre-se que esse
índice é aplicavel aos cidadãos do próprio país. Não existe um IDH que
considere a qualidade de vida e oportunidades para imigrantes ilegais. Há
imigrantes que se deram muito bem e outros não. Há brasileiros no Brasil que se
deram muito bem e outros não. O sucesso vai depender da dedicação,
determinação, atributos e outros fatores de CADA indivíduo. Mas se o IDH mede também as oportunidades, é fato que em um país com IDH alto há mais oportunidades. Principalmente se o indivíduo imigrar legalmente. Mesmo imigrando ilegalmente, em todos os países existem mecanismos para a legalização. Alguns mais difíceis (como nos EUA) e outros não. No momento, o governo americano está em processo de regularização de 12-13 (cada um fala um número) milhões de imigrantes ilegais. A última anistia foi dada no governo de Bill Clinton.
EDUCAÇÃO
Comparar a escola pública
americana e a brasileira é uma tarefa muito difícil. Existem boas escolas
públicas nos EUA e existem péssimas escolas. O imposto pago por imóveis é o
principal responsável pelo sucesso da escola nos bairros americanos. Um bairro
classe média alta, terá, provavelmente uma boa escola e pessoas ricas colocam
seus filhos na escola pública (o que dificilmente acontece no Brasil). Já bairros pobres
tem escolas medianas ou mesmo péssimas. A impressão que eu tenho é que as
escolas particulares do Brasil tem um nível muito superior ao das escolas
públicas americanas, mas isto é a impressão que eu tive examinando o currículo da
escola pública americana, comparado com o que se ensina no Brasil na escola particular.
Eu não tenho esses dados para escolas particulares nos EUA. A única certeza que
eu tenho é a seguinte: Qualquer pai ou mãe vai querer dar a melhor educação
para seu filho, seja ela pública ou particular e o orçamento da família é que
vai definir aonde esse estudante será colocado, na particular ou na pública,
seja no Brasil ou nos EUA.
SEGURANÇA
Eu preferia nem comentar esse
tópico mas tenho uma coisa a dizer sobre o texto da Sueli. Ela diz: "Aqui também existem
assaltos, assassinatos, roubos, acidentes de carro e muitos outros problemas igualzinho
no Brasil" Existem sim, mas os dados e estatísticas mostram que não é igualzinho no Brasil. As consequências também não são tratadas da mesma maneira.
SALÁRIOS NOS EUA
O que ela diz é verdade. Vindo
como imigrante ilegal, não espere trabalhar de cara como garçonete. Inglês
fluente é o mínimo exigido para essa posição. Embora algum restaurante possa
contratar sem documentos, a grande maioria não contrata pois há punição severa
para quem contrata imigrantes ilegais. Uma pena ela só ter comentado sobre esse
ponto. Gostaria de ter visto um estudo maior sobre os salários nos EUA em comparação com os do Brasil. Uma
informação que eu tenho é que a média salarial anual americana é em torno de USD 46,000.00, para
americanos e imigrantes documentados.
Quanto às contas que ela
apresenta, realmente trabalhar como imigrante ilegal e viver sozinho pode ser
um desafio orçamentário. No entanto, nunca conheci alguém nessa situação.
Geralmente os brasileiros dividem casas e apartamentos, assim o aluguel fica mais acessível por pessoa. Nenhum dos estudantes americanos da minha faculdade moravam sozinhos em apartamentos. Todos dividiam aluguel.
EMPREGO,
DESEMPREGO E VOCÊ SABIA?
Depois da crise evidentemente que achar um emprego virou um problema nos EUA. Há quem diga que não. Conheço brasileiros
que estavam empregados antes da crise (ilegais), mantiveram seus empregos e
ainda estão trabalhando. Mas deve isso ser tomado como regra? Logicamente que
não. Conseguir um emprego depende de muitos fatores, muitos fatores. Em um país
que recentemente passou por uma depressão econômica os desafios são maiores,
mas não é impossível arrumar um emprego. Ela cita nos comentários que uma amiga
dela com 3 faculdades nunca arrumou emprego. Um caso particular não deve ser
usado para generalizar uma situação. Há desafios para arrumar emprego nos EUA
como há no Brasil, documentado ou não, mas não é algo impossível.
Aqui vai outro exemplo que também não deve ser usado para generalização. Dos colegas da minha faculdade que ainda mantemos contato estão: Eu, Daniela, Gina, Christian, Sergio, Jeniffer, Gislaine, Kate, Ziporah, Daniela II, Marie e Natalie. Todos fizemos parte da formatura de junho de 2013. Todos estão empregados! Eu e a Gina temos projetos particulares e eu já neguei dois empregos por não considerá-los interessantes para minha carreira no momento, mas estou fazendo entrevistas e trabalhando em 2 projetos, um em Miami e outro em Naples. Novamente, isso não deve ser considerado como regra. Mas é um contraste quando se compara com a informação "mesmo quem tem faculdade aqui não encontra emprego..." não acha?
"Aqui nos EUA não existe carteira
assinada..." -
Verdade, eles usam outro método."...nem
férias remuneradas..." não é verdade, o empregado tem férias e recebe o salário normal durante a ausência, vai depender do contrato de trabalho."...e nem 13º..." alguns empregos pagam 13º. O Robert recebe 13º. Um cheque extra em julho e outro em Dezembro. Ele é americano e trabalha
em uma empresa americana. Algumas empresas pagam 13º. "...ou 1/3 de férias..." Verdade, 1/3 de férias ainda não conheci
ninguém que recebesse.
Outra coisa que não existe é FGTS, porém algumas empresas
tem outras maneiras de acumular dinheiro para o empregado. Há também salário
desemprego e outros direitos. Imigrantes ilegais que trabalham por hora
provavelmente não tenham direitos. Vai depender do patrão. Mas geralmente quem
trabalha duro e é honesto, muitas vezes é recompensado.
"Se você receber em dinheiro terá que gastar em dinheiro porque tudo que entra em sua conta bancária (se tiver uma) precisa ser declarado e é cobrado imposto" Se a Sueli está falando de rendimentos, no Brasil é a mesma coisa. Qualquer rendimento tem que ser declarado e paga-se imposto por ele. Não importa se foi depositado em dinheiro ou em cheque, é preciso declarar. Agora se as pessoas fazem isso lá ou aqui, a história é bem diferente...
(continua em um próximo post)
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