Em 1994 quando eu viajei
aos EUA para estudar inglês muitas coisas interessantes aconteceram que me
fizeram amadurecer em muitos pontos. Em primeiro lugar eu nunca havia saído do
país. Era minha primeira viagem internacional e o objetivo era o de estudar inglês.
Naquela época, eu não tinha computador, nem mesmo internet. Portanto a pesquisa
tinha que ser feita em papel mesmo ou perguntando por todo lugar. Visitei
muitas feiras de estudantes internacionais em São Paulo e coletei muitos
panfletos de várias escolas. Na época em tinha 23 anos e não sabia nada do
assunto, portanto, resolvi contratar uma agência para fazer a transação toda
para mim. A agência que eu escolhi foi a STB de São Paulo. Na época o dólar
custava menos que um real (não me lembro a moeda da época, pois trocamos tantas
vezes não é mesmo?). Assim, a viagem toda não ficaria muito caro.
A
única coisa que eu possuía na época era um fusca 86 e assim que decidi fazer a
viagem sabia que teria que vendê-lo, já que meu pai, quem me financiava na
época da faculdade, foi totalmente contra meu projeto. Mas eu fui adiante.
Contatei a agência, paguei as primeiras prestações e recebi (via fax) a
confirmação da escola e da casa de família. O próximo passo seria tirar o visto
de estudante.
Escolher
uma casa de família é essencial para adquirir fluência na língua. De cara, a
moça da agência me desencorajou a escolher lugares onde haviam muitos
brasileiros ou mesmo onde o inglês não era muito falado, como por exemplo,
Miami ou Orlando. A cidade que eu escolhi foi Boston em Massachusets. A casa de
família ficava em Charleston, uma pequena cidade colada em Boston, do outro
lado do Rio.
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Casa que eu fiquei 6 semanas. 34 Cook Street - Charleston MA Olhe no Google Maps! |
Visto
em mãos (dois dias antes da viagem!), passagem comprada, agora só faltava
embarcar. Senti muito medo de viajar sozinho na época, mas tive que enfrentar
meus medos e inseguranças. Comecei a estudar mais inglês (sozinho) antes de
viajar. Claro, não queria pagar muitos micos, não é verdade?
No
dia de viajar, São Pedro mandou um dilúvio para São Paulo só para frustrar
todos os meus planos e com a marginal totalmente alagada e mesmo saindo de casa
às 5 da tarde para pegar o avião às 10 da noite, só chegamos no aeroporto às 11
e eu havia perdido o vôo. Senti um enjôo e dor de estômago ao mesmo tempo. A
funcionária da Varig me colocou em um vôo com escala no Rio que sairia a meia
noite e nessa eu fui. Quase desisti...
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Minha Host Family na de baixo Jack (pai), Barbara e Dany Desculpe, na época não havia máquina digital e essas fotos foram escaneadas há mais de 10 anos... |
Daí
pra frente tudo o que podia dar errado deu. O funcionário da imigração revirou
toda a minha mala e eu não conseguia colocar tudo de volta. Cheguei atrasado em
Nova Iorque, me perdi no imenso aeroporto JFK (peguei o ônibus errado dentro do
próprio aeroporto), perdi também o vôo da American Airlines. Uma vez no guichê
da American Airlines fiquei admirado com a beleza das afro-americanas com suas
perucas, cílios e unhas postiças, etc. A funcionária me perguntou se eu poderia
viajar naquele exato momento e eu disse que sim. Ela então pegou rádio e disse
algo que eu não pude entender. Em segundos um funcionário veio me escoltar.
Passei por partes do aeroporto que nunca pensei que entraria e chegamos de
frente à pista. O pequeno avião me aguardava e eu entrei em um daqueles
carrinhos que carrega container na pequena cabine com o motorista eu tive que
ficar em pé. Tudo congelado, temperatura de -16 C o carrinho foi deslizando e
derrapando no piso até que cheguei ao avião. Foram 5 minutos dentro de um freezer.
O avião abriu a porta e eu entrei.
Ficamos esperando por mais de meia hora enquanto funcionários descongelavam as
asas do avião. Afff...
É
claro que cheguei em Boston 2 horas depois que a minha host mother foi me
buscar. Peguei o telefone e liguei para a casa e disse que eu era o Renato,
estudante brasileiro. Jack, o marido me disse para aguardar que ela viria me
buscar novamente. Foi só o que entendi em 5 minutos de conversa.
No
Brasil, a STB me disse para fazer um cartaz com o nome da escola L.I.F.E
language Institure For English e lá estava eu segurando o cartaz. O pior é que
inúmeras pessoas me encaravam e vinham me perguntar qual era o meu problema ou
a minha causa. Imagine você segurando um cartz escrito LIFE no aeroporto. Um
homem até mesmo me perguntou "Você está morrendo ou o quê??" Mico
total...
Barbara
chegou e me levou pra casa falando o tempo todo dentro do carro coisas que eu
não entendi. Os próximos 45 dias foram uma aventura após outra. Aprender a
pegar ônibus, metrô, assistir aula, fazer lições, conversar com a família todos
os dias, etc. No café da manhã Bárbara preparava muitas coisas e eu não
conseguia comer nada. Um dia ela me disse "Apresse-se ou você vai perder o
ônibus das 8:03" Eu pensei que ela estava brincando porque pensei "8:03?
Esse ônibus vai aparecer lá para as 8:10" Para minha surpresa, há 100
metros do ponto de ônibus, vejo meu ônibus chegar e sair (não consegui correr
por causa da neve). Quando olhei no meu relógio, que horas acha que era? 8:03
em ponto. Tive que esperar mais dez minutos em um frio de lascar pelo próximo
ônibus.
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Em uma casa de família você ajuda em muitas coisas como "chavelling" Tirar neve da calçada |
As
semanas se passaram e eu fui acostumando com tudo. Preferi fazer amizade com
pessoas de outras nações para aprender inglês. Todos os dias eu via os alunos brasileiros
da escola só falando em português por todo lado. Eles só falavam inglês dentro
da sala de aula e eu pensei que então, para eles, era como fazer inglês no
Brasil. Um dia somente saí com eles e todos me pediam para servir de tradutor.
Não falavam quase nada, isso já depois de quase um mês de curso. Detalhe também
é que todos eles optaram por ficar em alojamentos em vez de casas de família
americana. Primeiro erro.
Segundo
erro foi que só se associavam com brasileiros então não treinavam muito o
inglês. Terceiro erro, nunca faziam as lições e trabalhos. O curso todo para
eles era como férias nos EUA, acredito eu. Por isso a maioria voltou quase da
mesma maneira que veio...falando quase nada.
Hoje
acredito que seja ainda pior. Chegando no alojamento ou em casa, os alunos
ficam no Facebook, Msn, Skype, Orkut só praticando o "português" em
vez de aproveitar a oportunidade de aprender e adquirir fluência na língua
inglesa. Assim não há inglês que decole, me desculpe.
Um
dia na sala de aula, uma coreana me perguntou porque os brasileiros eram tão
mau educados e não se importavam com os outros. Fiquei chocado e perguntei por
que. Ela me disse que no alojamento dela havia um grupo de 30 brasileiros. De
noite eles saíam para bares e voltavam ao alojamento de madrugada. Entravam no
alojamento cantando alto, em coro, acordando a todos. Conversando com um deles
ele achou o máximo me contando como entraram às 4 da manhã no alojamento, todos
cantando Legião Urbana em coro para que todos acordassem. L Me desculpei com a
coreana e disse que nem todos os brasileiros eram assim, que os rapazes eram
jovens e imaturos. Ela, é claro, me disse que educação vem dos pais...
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Boston é uma cidade incrível |
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Dia da formatura |
Hoje
ainda lembro com saudades daqueles 45 dias. Foi uma experiência magnífica que crise
econômica nenhuma poderá tirar de mim, ao contrário de bens materiais. Entende?
Muitas
pessoas vêm aos EUA estudar inglês atualmente e eu recebo, pelo menos, 10
emails por semana com pessoas perguntando sobre cursos de inglês em Orlando.
Então a minha dica é a seguinte:
- Não venha para Orlando ou Miami. Se escolher a Flórida, vá mais para o norte onde as pessoas realmente falam inglês. Um amigo meu que foi a Miami me disse que mudaram Havana para Miami. No norte do país, ou mesmo na Caifórnia, a pessoa aprenderá muito mais. E as coisas são muito mais bem organizadas que na Flórida.
- Se mesmo assim quiser vir a
Orlando, escolha uma boa escola. Escola baratinha vai ter 90% de portoriquenhos
na sala de aula falando espanhol a todo momento. Se seu objetivo é aprender
espanhol, é o lugar perfeito. Uma boa escola é a universidade UCF, a Seminole
Community college ou a Valência community college. Se decidir depois fazer um
curso superior lá nem TOEFL é preciso. Com o próprio certificado do curso você
aplica para a faculdade. A própria escola atualiza o status do seu visto e nem
voltar para o Brasil você precisa. Alguns têm feito isso em vez de ir por todo
o processo de aplicar para uma faculdade americana do Brasil que é bem
complicado e cansativo.
- Associe-se com americanos, nunca
perca a oportunidade de falar inglês com quem quer que seja.
- Fique em uma casa de família
americana. No google você encontra inúmeras "Host families". Saia com
eles, passeie com eles.
- Tente anular o português da sua
mente. Evite facebook, Msn, Skype, orkut e o diabo a 4. No supermercado resita
ao impulso de contar em português, conte sempre em inglês, mesmo no pensamento.
Ao fazer listas, procure os nomes em inglês e faça a lista em inglês. Eu vejo
vários brasileiros no supermercado com lista em português.
- Não perca nenhuma aula, faça todas
as lições e trabalhos. Na sala de aula, evite ficar calado o tempo todo. Fale,
responda, participe!
- Assista bastante TV (mesmo antes de
vir!) só com canais americanos. Sempre pergunte o que significa isso ou aquilo.
- Fuja dos brasileiros. É verdade que
uma parcela aqui nos EUA veio com a cara e a coragem e não hesitam em te pedir
isso ou aquilo. Uma mulher que eu conheci outro dia, conversamos bastante, no
dia seguinte ela me liga pedindo meu carro emprestado e contou um monte de
problemas! Mas na verdade, eu digo fuja para você treinar mais o inglês e não
falar português. Nem sequer pensar em português.
A
primeira vez que você sonhar em inglês ou a primeira vez que se pegar
"pensando" em inglês, seu cérebro rompeu a barreira para aprender a
primeira língua estrangeira e a partir daí tudo fica mais fácil. Até mesmo aprender
uma terceira ou quarta língua estrangeira!!
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Ilha de Martha's Vineyards |
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Cape Code com amigos por um final de semana. |
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Quando o World Trade Center ainda existia. |
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Dentro do WTC havia bancos que vc podia olhar a espetacular vista a mais de 300 metros de altura. |
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No terraço do World Trade Center. |