domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Nice Lady

Da primeira vez que ouvi a palavra Deltona pensei se tratar da cidade de Daytona ao que Robert me explicou que Deltona é uma cidadezinha no centro da Flórida onde Loretta, sua avó de 88 anos morava. Desde o primeiro dia que conheci Loretta me encantei com usa vitalidade, bom humor e histórias. Muitas histórias.


Loretta, que completa 89 anos esse ano mora sozinha em uma casa que parece de bonecas. Miniaturas para os padrões americanos, mas com muito charme. Segundo ela, após a aposentadoria dela e do marido há 25 anos atrás, eles decidiram fazer como muitos americanos. Fugir do frio de New Jersei e curtir o tempo de descanso em um lugar mais quente como a Flórida. E para Deltona vieram depois de morar um tempo em Orlando. Foram seguidos pelos filhos e netos que também se mudaram para a Flórida depois de um tempo.

Rua da cidade de Deltona onde vive Loretta

Casa onde vive Loretta
 Loretta é descendente de Irlandeses. Dá pra dizer pela cor da pele e olhos azuis. Seu marido, facelido há 8 anos, era descendente de imigrantes italianos que vieram aos EUA na década de 30. Antes de completar 21 anos Loretta casou-se com Sam e com ele viveu 61 anos em um feliz casamento segundo conta. Teve duas filhas, Louise e Cindy. Estas após casadas, presentearam Loretta com 5 netos e Loretta agora tem 2 bisnetos.

Loretta e Sam

Filhas e Netos

Bisnetos
Quase todos os meses vamos visitar Loretta. Sempre fico pensando em uma visita de encorajamento mas quando saímos de lá, nós é que nos sentimos encorajados. Esse ano e o ano passado têm sido difíceis para ela. Entre intermináveis idas e vindas ao hospital, internações e semana passada uma cirurgia, Loretta não perde o bom humor e hoje não foi diferente. Riu, contou histórias, falou sobre política, TV, talk shows, livros, gatos etc. 
O casal idoso do centro é a mãe e pai de Sam que emigraram da Itália na década de 20
Desde pequeno eu aprecio ouvir histórias da vida das pessoas e quando estou perto de Loretta não perco a oportunidade! Fico imaginando que vida interessante ela deve ter tido em um país desenvolvido como este enquanto contemplo as dezenas de porta-retratos e álbuns de família. Não deixo de perceber que Loretta foi, e continua sendo uma pessoa fina, que não gosta de linguagem baixa. Nas fotos de família, Loretta está sempre bem vestida, sua casa sempre organizada e o sorriso sempre estampado no rosto.

Living room - sala de estar
  
Dining Room - sala de jantar


Cozinha


Quarto de leitura

Mesmo agora que vive sozinha e se move com dificuldade, a casa ainda é limpa e organizada. Um sistema de ajuda a “seniors” aqui nos EUA trás almoço todos os dias para ela e uma pessoa vem uma vez por semana limpar a casa, lavar a roupa, secar e guardar. Talvez por esse motivo Loretta deseja ainda viver sozinha no sossego do seu lar, no aconchego da sua casinha. Quando chegamos hoje ela contemplava fotos antigas e disse que estava se entretendo com as boas memórias. Ainda disse “we had such a great time at the beach...we were young and healthy” (nós tivemos tantos momentos ótimos na praia, nós éramos jovens e saudáveis), e eu não duvido disso.

Por esse motivo resolvi escrever este post em homenagem a ela. Quando disse a ela que possuía um blog ela me perguntou: “O que é blog? Já ouvi essa palavra antes”. Eu sorri e expliquei a ela o que era um blog.

Cada vez que visito Loretta fico tentando descobrir seu segredo. O segredo de viver bem sozinha, de se entreter com diversas coisas, de contemplar o silêncio e achar bom. Em meio a livros, TV e fotografias, Loretta passa seus dias. Já negou três vezes o pedido dos netos de se mudar para casa deles. Disse que só vai quando a vida estiver difícil de viver. Se eu tivesse uma poção de rejuvenecimento minha escolhida seria Loretta. Porque sinceramente o mundo precisa de pessoas boas como essa senhora que me chama de “neto postiço”.
 :-)

Loretta e seu neto Robert - Dez 2010


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Vai uma lavadinha aí?

Foto via Bajonni
Uma coisa que o Americano médio não faz é pagar para outros fazerem serviços que nós brasileiros nos acostumamos a pagar como cortar a grama, pintar a casa ou lavar o carro. No Brasil não sei quantos anos fiquei sem lavar eu mesmo meu carro. Sempre foi mais fácil levar o carro ao lava-rápido e não sujar as próprias mãos. Mas aqui é diferente. A maioria das pessoas lava seu próprio carro e os mais abastados levam o carro ao lava-rápido. Por exemplo, aqui em Orlando em um raio de uns 10 km só existem 3 lava-rápidos, dá para acreditar? Os preços variam. Eu levei meu carro duas vezes assim que o comprei. Paguei 13 dólares e não fiquei contente com o serviço. Acho que o serviço que eu realmente ficaria contente custaria por volta de 60-100 dólares. Por isso muitas pessoas lavam seus próprios carros. Nos postos de gasolina, a mesma máquina que você usa para encher os pneus de ar você coloca 75 centavos e aspira o carro por 4 minutos com um aspirador potente. Por 10 dólares você compra no Wallgreens (um tipo de farmácia e mini mercado) um aspirador portátil que você liga no acendedor de cigarros e aspira o carro em poucos minutos e em qualquer lugar.

Incrível também, e parece que não sou só eu que percebeu, não existe muita poeira por aqui então o carro demora muito pra ficar sujo. Digo parece que não sou só eu porque recebi um comentário da Lu que é brasileira e também vive aqui que disse “aqui também não tem aquele poeirão que tem no Brasil”. Meu carro é dourado e fica bem uns dois meses paracendo que foi lavado no último domingo.

Mas vamos a algumas imagens do “fancy” lava-rápido daqui do bairro. Ah, esqueci de falar. Gorgetas são quase obrigatórias. Da última vez que fui só tinha cartões no bolso e recebi uma “cara feia” em troca do meu “thank you!” :P



Aqui você pode ver os preços. Para os bons serviços paga-se caro....eu digo caro mesmo! 


Tudo é automático e você fala com a máquina. Insere o cartão ou
dinheiro e segue em frente...


Aqui meu amigo Bobby e o carro da mãe dele. Um chevrolet cavalier 2004.
O carro mais pobrinho no lava-rápido!

Do lado de dentro do lava-rápido você pode olhar através das janelas
o trabalho feito em seu carro

Olhando o carro dos outros ser lavado :)


Se você quiser sabão extra no seu carro é só apertar o botão!
Confesso que não apertei, fiquei com medo de tocar uma
sirene, sei lá hehehe

Na sala de espera tem TV, revistas e bebidas no conforto
do ar condicionado ou aquecedor.

Você pode sacar dinheiro também dentro do lava-rápido


Estragar seus dentes ou distrair as crianças


Ventiladores para dissipar o calor da Flórida


Pra quem não conhece esse é o Lincoln MKT. O mesmo chassis
da Ford Edge (Lincoln pertence à Ford)


Carrão. Esse é o modelo antigo, a frente do novo não gostei
parece uma baleia...

Dá pra perceber o tipo de gente que frequenta lava-rápidos porém
esses carros não custam os olhos da cara como no Brasil.



Interessante...esfrega e aspira ao mesmo tempo os tapetes...

Depois de uns 2 anos sem lavar, o carro da Louise ficou limpinho
igual ao Audi A4 a seu lado :P

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Meu Reino por uma Peruca

Jamais!
Não, não. Não pense que a peruca é para mim. Eu estou muito bem com meu penteado calvo total. Anos atrás ao invés de comprar uma peruca, resolvi investir em terapia. Mais digno, menos ridículo e hoje sou imune à comentários, piadas e brincadeiras de mau gosto. Infelizmente ainda existem pessoas que não sabem a diferença entre “rir comigo” e “rir de mim”. Meus amigos e as pessoas que eu gosto riem comigo, os que se sentem inferiores tentam rir de mim.

Aprendi cedo em casa, que não se faz brincadeiras e comentários negativos a respeito da aparência das pessoas. É rude. Mas uma coisa que eu aprendi em anos de terapia foi que, uma pessoa tenta colocar para baixo justamente pelo fato que ela se sente por baixo, ameaçada ou inferior. Quando a piadinha vem, lembro me imediatamente disso e sinto até uma compaixão pela pessoa.

Bom mas eu não vim aqui falar das desconveniências ou não da minha calvice e sim de perucas. Perucas? Sim, já recebi vários emails pedindo que eu explicasse porque as mulheres negras americanas tem esses cabelos maravilhosos. Sempre respondi educadamente que não tinha a menor idéia e nem vontade de falar sobre o assunto até outro dia quando me dirigi para a aula de Speech (falar em público). Fiquei de boca aberta e queixo caído com o que vi e ouvi. 

Uma garota afro-americana chamada Marilyn, que tem um “cabelo” de Marilyn, se dirigiu à frente da sala para fazer seu discurso informativo. Todos tivemos 5 minutos para essa tarefa. O tema dela: Perucas, Hair extention e uma outra coisa que não consigo lembrar o que é. Marilyn tem um salão de tratamento capilar para afro-americanas ou não. Lá eles trabalham com hair extention (estensão de cabelo?), perucas, alisamentos, etc. Por meio de slides de Power Point ela nos explicou a diferença entre todas elas e o processo de colocação. Mostrou-nos também fotos das celebridades e de suas perucas. Eu fiquei de boca aberta. Pensei que tudo aquilo era alisante do bom, mas não. Inclusive mostrou a coqueluxe do momento, o “Lace Front Wig” que as famosas como Beyonce usam.

Beyonce créditos
 O lace front wig tem uma pele que e colada na frente (na testa) fazendo parecer que o cabelo é realmente da pessoa. O slide passou também por inúmeras fotos de todos os tipos, estilos, cortes, etc. Fiquei contente de saber que as negras americanas tem essa opção e podem também ter cabelo liso, loiro, cacheado, vermelho, etc. Porém, imediatamente perguntas começaram a me atormentar, mas ainda não era hora para as perguntas. Fiquei esperando pacientemente e quando surgiu a oportunidade levantei a mão. Mas e, se minha pergunta ofendesse? Bom, mas eu tenho que perguntar. Não queria também colocar ela e a “professora” em uma sai justa porque, depois daquela palestra ficou evidente que a professora, Ms. Peterson, que é afro-americana, usava também, uma peruca. Lá vou eu: “Eu queria saber como se faz para tomar banho com a peruca?”. Ao que ela me respondeu que poderia usar uma toca de plástico. Mas claro que não era essa a minha dúvida. Lá vou eu de novo: “Não! Como faz para lavar a cabeça? Você descola o lace, ou lava tudo debaixo do chuveiro?” Tive uma sensação de que esse não era o tipo de pergunta que se fizesse. Era como ter perguntado a um francês quantas vezes por mês ele tomava banho. Todos se calaram, um silêncio desconfortante tomou conta da classe, alguns abaixaram a cabeça, e o sorriso no rosto da moça amarelou. Ai...eu e minha boca grande... Afinal ela respondeu: “Você precisa ir a um salão de beleza para lavar a cabeça, se tentar lavá-lo você mesmo pode estragar o lace e a peruca”. Xí....pensei, mas já me veio outra pergunta: “E custa caro para lavar a peruca em um salão de belezas como o seu?” e ela respondeu: “A manutenção do lace fica caro se você quiser lava-lo 3 vezes por semana”. Só três vezes por semana? Instantaneamente comecei a sentir uma coceira na minha cabeça ao que eu disfarcei, é óbvio.


créditos
 
Talvez não seja uma boa idéia cantar altas notas usando lace :(
 crétidos
Marilyn finalizou sua palestra e eu fiquei pensando que ela é uma garota corajosa. Não somente por admitir que não gosta do cabelo que a mãe natureza lhe deu (o que, me parece é o sentimento da maioria das mulheres negras ou não) mas também por admitir que usa perucas e nos mostrou todo o processo e trabalho que dá usar uma. Agora, toda aula ela aparece com uma diferente, uma mais bonita que a outra. Good for her!
Também não paro de reparar em todas as afro-americanas que encontro pelas ruas, no supermercados, nos shoppings, etc. Elas sabem realmente se cuidar. Sempre bem vestidas, unhas feitas, e “cabelo” impecável. Estar descontente com seu cabelo é algo que já ouvi de muitas mulheres de todas as raças. Uma amiga minha que é loira de cabelo liso escorrido sonha em ter cabelo crespo. Para todas essas que discordam com o que a natureza lhes deu a tecnologia veio em auxílio para que estas, também possam ter cabelos lisos, cacheados e por que não loiros?

Créditos

Em nenhum lugar encontrei algo falando se os cabelos da Opra são naturais, alisados, laces, etc. E importa? Como já dizia a TV Pirata. O que importa é beleza exterior, quem gosta de interior é decorador!! :-)


Créditos

Veja aqui quanto custa uma.
 
 

domingo, 6 de fevereiro de 2011

“Você é Bom, Mau ou Feio?”

Resposta ao artigo “Você é bom, mau ou feio?” publicado no estadão.com.br


Como de costume, pela manhã, conecto-me no twitter e passo a ler os pequenos posts que são colocados no ar por aqueles que eu sigo nessa rede. Tenho interesse pessoal pelos pequenos posts colocados por jornais, assim fico sabendo o que acontece pelo mundo e hoje, me deparei com o texto do Sr. JOSÉ DE SOUZA MARTINS, PROFESSOR EMÉRITO DA USP, AUTOR DE A SOCIABILIDADE DO HOMEM SIMPLES (o maiúsculo foi colocado pelo jornal).

No artigo citado no título, o professor emérito, expõe o que chama de critério de avaliação “cruel e debochado” na concessão de vistos para os EUA. Gostaria muito que o Estadão tivesse a opção de comentários por parte de leitores assim, eu poderia ter deixado minha opinião a respeito do que foi exposto. Como não há essa opção no site, uso meu espaço aqui, onde posso dizer o que bem entendo.

O texto, a meu ver, deveria ser no mínimo, rotulado como hipócrita. Os dicionários definem a palavra hipocrisia como sendo “fingimento de bondade de idéias ou de opiniões apreciáveis”. Outra fonte explica o termo como “manifestação de fingidas virtudes, sentimentos bons, devoção religiosa, compaixão etc.; fingimento, falsidade”. Na língua daqueles que não são eméritos em coisa alguma poderia ser “falar mal de alguém ou algo sendo que a pessoa, às ocultas ou não, faz a mesma coisa”. E porque chamo eu o artigo, de hipócrita? Basta olharmos de perto para a própria sociedade brasileira ou mesmo para a nossa família. Primeiramente vamos olhar de perto o artigo do senhor José de Souza Martins.

No texto ele chama de cruel e debochado o critério usado para a concessão de vistos no consulado americano. Segundo documentos revelados pelo Wikileaks, o critério tem seu nome baseado no filme “The Good, The Bad and The Ugly” de Clint Eastwood. Apesar de se tratar de uma classificação para uso interno, segundo o texto, o consulado classificaria as pessoas em “bons”, aqueles que não vão aos EUA com intenções de viver ilegalmente, “maus”, aqueles que têm intenções de viver ilegalmente no país e, por último, os “feios” que seriam os descuidados, pobres e desesperados. Segundo o texto, aos “maus e feios” é negada a permissão de entrada nos EUA. E o texto segue explicando como o americano precisa do mau e do feio, visto que se recusa a trabalhar em serviços que, no Brasil, consideramos “trabalho de pobre”. E porque, digo eu, que o artigo é hipócrita?



Em primeiro lugar, todos nós fazemos isso. Eu não culpo os americanos por não desejarem ter em seu país, os “maus” e, principalmente os “feios”. Os EUA já têm sua cota de maus e feios, sejam eles naturais ou “importados” de terras como o Brasil e outros países menos favorecidos. Não fazemos a mesmíssima coisa no Brasil? Não é a mesma coisa que o paulista faz com os nordestinos? No texto o Sr José diz que sem os “maus e feios” o americano não teria empregada doméstica barata. Faça-me um favor! Vindo de alguém que trabalha em uma universidade pública (USP) que fecha as portas para os “feios” e onde ricos estudam de graça?? Santa hipocrisia Batman! Estou cansado desses socialistas de "carteirinha e cartão de crédito", que dirigem carros importados e residem em apartamentos nos Jardins ou condomínios fechados onde ao "feio" a entrada é barrada!
Qualquer um que aqui vive sabe, que empregada doméstica não existe na classe média como existe no Brasil. Atire a primeira pedra quem nunca teve uma empregada doméstica nordestina, filha ou neta de nordestinos. Atire a primeira pedra quem não pagou um salário mínimo de menos de 500 reais para uma empregada trabalhar 8 horas por dia, cinco ou seis dias por semana. Ou será que o Sr José paga um salário digno de 1.500 reais para sua empregada? Ou será que ele ou talvez sua esposa, fazem todo o trabalho da casa inclusive, limpar uma privada, coisa que ele bem disse que brasileiro “bom e mau” se nega a fazer. Quem de nós não classifica, da mesma maneira, as companhias de seus filhos? Que rico no Brasil deixa seu filho andar com o “feio”? Fique sabendo também Sr José, que empregada barata existe no Brasil e não nos EUA. Empregada barata é uma espécie extinta por aqui. Há 50 anos não se observa um exemplar. Empregada aqui ganha por hora e tem carro automático, casa com ar condicionado e veste Gap e Zara.


Quem somos nós para criticar o critério de países na seleção dos indivíduos que estes permitem ou não a entrada. Veja o que brasileiros “feios” têm feito aqui nos EUA, em Portugal e em outros países. Se quiser ter uma idéia, leia este artigo que meu amigo Glauco, publicou em seu blog Toth a respeito da vergonha que certos brasileiros fazem todo o resto passar. Ou leia o meu artigo sobre preconceito contra brasileiros aqui.

Em uma parte do texto é dito a respeito dos “maus...que para lá vão para se tornarem novos ilegais, vão para ficar. Não diz o cônsul, que vão para trabalhar em serviços que os próprios americanos recusam.” Pois bem, vivendo aqui vou contar o que tenho observado. Outro dia, no supermercado, fui atendido, no caixa por uma senhora, de mais ou menos uns 50 anos. Eu era seu último cliente, visto que seu turno já tinha terminado. Reparei que todos os caixas e empacotadores eram pessoas de mais de 50 anos. Igualzinho ao Brasil! No estacionamento, fiquei abismado (pois ainda tenho resquícios da sociedade brasileira na minha mente) quando vi a senhora tirar seu uniforme e entrar em uma BMW. Não ficaria admirado se descobrisse que esta, mora também em uma casa com piscina. Diga-me, quem no Brasil, que possua uma BMW, more em uma casa com piscina, se disporia a trabalhar de caixa no Barateiro? Também vi senhoras de mais de 60 anos dirigindo ônibus e trabalhando em diversas funções que “brasileiros” da classe do Sr José se recusariam a trabalhar. Isso não é defeito do “americano”. Isso também fazemos nós brasileiros e é hipocrisia dizer que não.

Pode ser sim que o critério usado pelo consulado seja esse mesmo embora, a verdade, talvez ninguém saiba. Em vez de taxarmos os americanos de “bandidos”, os brasileiros deviam pensar nos por quês de milhares e milhares de brasileiros que desejam sair do Brasil para ir a um país onde, por pior que seja, ainda oferece alguma qualidade de vida e oportunidades que, no Brasil, seria muito difícil o “mau”e o “feio” conseguir. Deveriam pensar também que, se o Brasil fosse rico, tivesse uma sociedade mais justa, impostos justos e mais oportunidades, como este trataria o “mau” e o “feio” que viriam de outros países. Talvez da mesma maneira como todos nós, em pequena escala, na vida doméstica ou não, tratamos os “feios”. Lembro-me das palavras da minha mãe que dizia, quando eu ainda era pequeno, que “o mundo seria diferente se todos nós tivéssemos um espelho retrovisor onde pudéssemos olhar nossa própria bunda suja.”

sábado, 29 de janeiro de 2011

Entrevista com a brasileira Flávia Tonioli que vive em Miami.

Essa não é a Flavia! :)
Uma de minhas melhores amigas e colega de trabalho, a professora de educação física Dani Tonioli tem uma irmã que vive em Miami. Eu sempre tive muita curiosidade de conversar com ela e saber detalhes da vida nos EUA, fofocas, qualquer coisa. Nas vésperas de vir aos EUA nos encontramos no apartamento da Dani, mas conversar sobre os EUA não foi possível. Por isso, correspondendo-me com ela por meio de correio eletrônico eu perguntei se ela estaria disposta a dar uma entrevista para o blog e ela topou. Por conta de sua vida agitadíssima ela respondeu às minhas perguntas 6 meses depois! Mas como tudo que ‘tarda mas não falha’ ela respondeu e aqui vai a entrevista na íntegra. Flávia é uma pessoa reservada e não quis que sua foto ou email fossem publicados no blog.

Para responder ao questionário que eu enviei, segundo Flávia, ela teve que parar tudo, trabalhos, papers para leitura da pós graduação, desligar o telefone, desconectar a internet , mandar o chefe arrentino para arrentina e um pouquinho mais. Valeu a espera!

Nome completo: Flavia Tonioli
Idade (se nao quiser nao precisa falar! :P): Forever 25!
Formação no Brasil: Oceanografia
Nome da faculdade: Univali
Atividade que desempenhava no Brasil: Monitoramento de recifes de corais.

Flávia, quando foi que chegou aos EUA e qual o objetivo?
Primeiro em 2004 como pesquisadora visitante, vim para ver como seria trabalhar aqui e também para tentar uma bolsa de estudos futuramente. E depois em 2006, retornei, com minha bolsa de estudos integral, para começar o mestrado. O objetivo em 2006 era fazer mestrado e construir minha carreira.

Como foi que você conseguiu uma bolsa para estudar nos EUA?
Ralei como uma condenada em vários projetos, entrevistando turistas e stakeholders (pescadores, mergulhadores, managers, galera da área de turismo, etc. E não pense você que entrevistar pessoas de mal humor é fácil não, ainda mais quando os questionários são longos!), compilando e analisando database, ganhando praticamente nada. Convenci meu chefe que ninguém conseguia trabalhar tanto quanto eu, debaixo de 40ºC, chuva ou furacões, sempre com um sorriso na cara e fazendo piadinhas das furadas que me metia. Um ano depois, ele se convenceu que eu seria boa para o trabalho e me deu uma bolsa, em troca de escravidão à pesquisa por 2 anos.

Onde você ficou morando assim que chegou aos EUA? É caro viver nos EUA?
Em 2004 com 3 estudantes brasileiros, na sala deles, num colchão inflável.
Em 2006 aluguei meu Studio (apto com quase tudo em um só cômodo e um banheiro) , que para vida de estudante bolsista era bem caro, $850, mas como eu não tinha carro, então minha bike aliviava o bolso.
É caro, se você vive em um lugar bom (localização custa $$), tem carro (seguro mais gasolina), se gosta de comer fora (eu sempre odiei cozinhar, mas tem horas na vida que uma garrafa de vinho te transforma num mestre cuca!) e se gosta de consumir (mas é para alegria dos pobres queexiste TJ MAXX, Costco, Dolphin Mall, Wal Mart, Sawgrass Mall, Ross, Marshalls e outras lojas que te permitem consumir, mas que também podem te levar a falência se você for um shopaholic ).
Eu vivia o mais simples possível, não comia muito fora e nunca comprava nada.

Pouco dinheiro e sacola cheia!!
Como foram os primeiros dias de aula? Sentiu algum tipo de preconceito por parte de americanos ou pessoas de outros países?
Os primeiros dias de aula foram ok, até eu ter aula com um Porto-riquenho que não entendia absolutamente nada do que ele falava, mas até o final do semestre consegui me comunicar com ele (em espanhol rs). Não! Brincadeira, conseguimos nos entender na língua universal.
Preconceito teve bastante quando eu comecei a tirar notas mais altas que os americanos. Eu me empenhava bastante nas apresentações e os professores sempre elogiavam, isso criou um ciuminhos de alguns alunos nerds, que sempre faziam perguntas relacionadas a minha escrita (se eu tivesse escrito algo errado em inglês) ao invés de perguntar sobre a matéria. Mas acho que foi mais coisa de competitividade (que americano tem bastante), e de nerd, do que de preconceito.
  
Lá vem o aquele vermelhinho...
Como eram os professores?
Os meus foram legais, a maioria não eram americanos e entendiam bem pelo o que eu estava passando. Os americanos acho que me achavam meio louca. Mas tirando acima de B, tá valendo não é?

Quais diferenças existem entre uma faculdade americana e uma brasileira?
O meu mestrado aqui foi mais puxado que minha faculdade e pós-graduação no Brasil. Os professores não estão muito aí para você e deadline é deadline, não tem o jeitinho brasileiro de que o cachorro morreu e você não pôde entregar a lição e trabalhos a tempo. Também não tinha muita amizade entre professores e alunos. Mas eu tinha uns professores alternativos que se comunicam bastante com alunos e ate faziam reuniões na casa deles.
E em termos de amizades, também não fiz muitas na faculdade no meu curso, com alunos. Tudo era bem competitivo e professional, sem muita amizade de verdade. Acho que falo mais com meus professores do que com meus colegas de classe. Também fiz amigos na faculdade mas fora do meu curso. Os do meu curso, foram poucos que fiz amizade mesmo.

É difícil estudar nos EUA? Como você descreveria a sua experiência?
Acho que se você tem uma base boa de inglês, pega rápido. Acho que o começo é meio sofrido, mas depois você se acostuma. Eu, como estava trabalhando também, limitava bastante meu tempo de estudo, então eu tive que aprender a escanear papers e aprender de forma mais rápida.

Quais foram os principais desafios que você teve que enfrentar nesse período?
Eu acredito que Miami não é uma cidade muito friendly, e a falta de amigos e família, é o que realmente te desanima. Eu sempre tive muito foco na minha profissão, então sabia que teria que passar por isso, sozinha, para crescer profissionalmente. Mas skype ajuda muito, um beijo pro criador do skype!!! A falta de grana também pesa, porque na terra do tio Sam o que te move é o capitalismo, e se você não pode comprar, você
se exclui um pouco da população. A comidinha de casa realmente faz falta.
Desafio também foi procurar emprego não tendo um green card ou não sendo US citizen. Acabei sempre trabalhando para estrangeiros. Só uma vez tive uma chefinha americana, os outros, indiano, filipino, argentino, ... É bem difícil alguém te dar emprego quando você está concorrendo com pessoas que tem as mesmas qualificações que você e não precisam de visto. Na minha área, que a grana é curta, dificulta bastante.
Outro desafio é mostrar que seu inglês é bom suficiente, mesmo com nosso sotaquezinho e trocando as palavras,...

Você já respondeu que trabalhava enquanto fazia faculdade. Que tipo de trabalho fazia? Pode dizer a remuneração?
Sim, trabalhava em vários projetos diferentes para o meu chefe e ainda pegava bico com outros professores, fazendo entrevistas, compilando ou analisando database, fazendo mapas, o que eles precisavam de ajuda, eu
aprendia e fazia. Cheguei até a trabalhar de final de semana em provas de corrida, dando amostras de accelerade. Tudo quanto era bico que aparecia eu pegava.

Vai um acelerade aí? (Gente o que é isso hein?)
Como é viver nos EUA, especialmente em Miami?
Agora eu gosto, porque sou casada, ganhei uma american family, e tenho meus amigões brazucas aqui. Através do triathlon fiz vários amigos brasileiros que viraram minha família aqui. Então, quando eu não estou
preguiçosa ou muito busy(ocupada), treino e trabalho durante a semana. Eu e meu marido, sempre vamos aos jogos de basket do Miami Heat, embora eu seja uma Celtics fã! E sempre cozinhamos em casa, dá pra economizar bastante cozinhando em casa. Meu marido é quase um chefe :P
O que eu mais gosto de Miami é de ver o mar todos os dias, de mesmo ganhando pouco, poder ter acesso a coisas boas, como viver de frente para o mar, ter segurança e poder treinar tranquilamente sabendo que ninguém vai roubar minha bike. Também amo sair de barco, mergulhar e pescar. Ahhh, e outra coisa que é legal daqui, bateu uma saudade da comidinha brazuca, tem vários restaurantes e lojinhas brazucas, o que você não acha com tanta freqüência em muitos outros lugares.

Miami Beach é o máximo!

Prédios do Downtown Miami.

Você acabou casando com um americano. As diferenças culturais entre vocês influenciam no casamento?
Claro que ha muitas diferenças culturais. Outro dia eu quase matei ele porque ele colocou a panela com todo aquele restinho de brigadeiro de molho. DE MOLHO????? Tá maluco???? Não existe coisa melhor do que raspar uma panela de brigadeiro. Outra, ir a um churrasco e só levar o quanto você vai beber, eu levo bebida para a galera e não pensando em quantas brejas vou tomar...
Natal aqui nessa terra é uma derrota, volta pro Brasil, que aqui é deprê.
Americano é bem certinho, segue as regras ao pé da letra, mas acho que é por isso que as coisas funcionam aqui.
Diferenças sempre existirão, mas como tudo na vida, você aprende a ceder e entender, e aos poucos também vai aprendendo mais sobre a cultura deles, e dançando conforme a música... Ou faz eles sambarem também :)

Diversidade da população que vive nos EUA.
O casal pretende um dia morar no Brasil?
Sim, quero muito que meu marido aprenda português e minha cultura. Ele também quer. Ele ama o Brasil e fica encantado com a forma que os brasileiros vivem, pessoas sempre alegres, muitos, felizes com pouco. A
única coisa que pega é minha profissão, grana, porque para morar no Brasil como moramos aqui, tem que ter muito $$$$, e segurança também acaba custando caro em algumas partes do Brasil. Isso é uma coisa que sempre me faz querer voltar, poder dormir de porta destrancada, deixar minha bike no carro, andar com meu laptop na minha mochila pedalando...

Quais são seus planos para o futuro?
“Deixa a vida me levar, vida leva eu...” Como já dizia o grande mestre Zeca Pagodinho. Ummmmm dia, fazer meu PhD, continuar sempre aprimorando, fazendo cursos, estudando (o que aqui é bem caro), e continuar crescendo profissionalmente. Viajar mais, isso é outra coisa boa de Miami e EUA, que viajar daqui é bem mais barato do que viajar de muitos outros lugares.

Abraços a todos no Brasil!
Flávia Tonioli

Fotos sem direitos autorais extraídas de mybrainstorm.com

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