Este post foi publicado primeiramente no blog Brasil com Z do qual faço parte do grupo de colaboradores. Achei interessante publicar aqui também, pois muitas pessoas chegam aqui a procura de informações para estudar.
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Algumas pessoas pensam que as escolas no exterior são perfeitas, que tudo funciona precisamente e que só no Brasil é que existe zona ineficência nas escolas. Neste post, irei contar os prós e os contras de estudar nos EUA, especialmente em Orlando na Flórida. Já ouvi de todos por aqui que na Califórnia ou ao Norte é diferente. Muitas coisas são típicas aqui do sul. O que irei descrever tem muito a ver com a faculdade que estou no momento, a IADT Orlando. Existem muitas coisas que são específicas de escola para escola e não dá para afirmar que as características da minha escola valem para todas as outras. Muito do meu relato vem de experiência pessoal.
No geral eu acho que estudar aqui é mais fácil que no Brasil. Enquanto no meu último semestre na UNESP eu carreguei 13 matérias, aqui eu só curso 3 matérias por vez, acredita? Em três dias da semana. Cada dia da semana, uma matéria só e as aulas têm a duração de 5 horas. Para cada hora de aula assistida, espera-se do aluno que estude, desenvolva projetos e trabalhos por, pelo menos 2 horas em casa. Às vezes esse período pode ser multiplicado por quatro, principalmente no final do trimestre com os trabalhos finais. Embora sejam somente 3 matérias, o volume de lições e trabalhos é bem maior do que o que eu tinha no Brasil.
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Campus da IADT Orlando |
PRÓS
Tecnologia disponível - A escola tem aparelhos e programas de última geração. Biblioteca com grande acervo de livros, filmes e DVDs disponíveis. Pelo portal da faculdade, todas as lições, trabalhos, notas, participação e outras informações estão disponíveis. Os laboratórios de computação são muito bons e tem-se a opção de trabalhar em Windows ou mesmo em Mac.
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Um dos muitos laboratórios. Esse combina mesas de desenho e computadores. |
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Sala de desenho |
Bons professores - A grande maioria dos professores são muito bons com, no mínimo mestrado. Os professores são muito acessíveis, gentis e interessados no seu aprendizado. Pegar matérias com professores doutores é realmente um desafio, eles exigem muito mais dos alunos. Na minha última matéria que peguei com Dr. Briggs tive que escrever uma pesquisa sobre 3 sociologistas famosos que rendeu-me 23 páginas digitadas.
Se você não comparece à aula, recebe um email do professor e um telefonema por parte do seu advisor. Precisa-se explicar porque não compareceu à aula e isso fica registrado no histórico escolar. Faltar no primeiro dia de aula sem justificativa implica no cancelamento do curso. Só mesmo se estiver doente e puder comprovar.
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Lisa DiPaula (à esquerda) e Janneatte Steeves (Dr. Steeves) Excelentes professoras, muito exigentes. |
Estacionamento grátis - Em Orlando o que mais existe é lugar para estacionar e com exceção do centro da cidade, em qualquer lugar, não se paga para estacionar o carro.
Poder voltar à faculdade depois de formado - A maioria das escolas particulares como a minha, você pode, depois de formado, voltar e assistir qualquer aula novamente sem pagar por isso. De vez em quando temos alunos na sala de aula que se formaram há alguns anos e que voltaram para se atualizar em programas que não estavam disponíveis na época em que eram estudantes. Mesmo quem deseja fazer uma matéria novamente pode fazê-lo, quantas vezes quiser. Eu cursei desenho I e Sketching and Rendering duas vezes e pretendo fazer a última pelo menos mais uma vez antes da formatura.
Associação com professores e funcionários. A escola tem diversos eventos, piqueniques, festas e viagens onde professores e funcionários comparecem com suas famílias.
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Em visita da escola a uma casa sustentável, eu e meus amigos americanos |
Auxílio econômico e psicológico - Quem estiver passando por dificuldades financeiras, pode receber ajudar alimentação, transporte e vestimenta. Existe um psicólogo disponível para conversar e encorajar os alunos. Pode-se marcar hora com o profissional sem ter que pagar consulta. Todo mundo precisa cuidar do psicológico não é? (rsss)
Aulas particulares - Pode-se ter aulas particulares com os próprios professores ou tutores sem pagar por isso nas instalações da faculdade. É só marcar hora. Meu trabalho de Issues and Programming, de 98 páginas, teve a ajuda pessoal e preciosa de Dr. Steeves, minha professora.
Job Hunting - A escola possui uma micro agência de empregos que ajuda os estudantes a encontrar estágios e empregos antes e depois da formatura. Também corrige e elabora currículos e portfólios.
Facilidade de fazer amigos - Quase todos na faculdade são muito gentis e faz-se amizade com muita facilidade. Só é preciso escolher bem com quem se associa porque gentalha é o que não falta.
CONTRAS
Transporte público - Em Orlando não existe metrô e o número de ônibus é pequeno. Muito pelo fato de os carros e a gasolina serem muito baratos. Então se você deseja ser Green (como eu), não tem a opção de deixar o carro na garagem e usar o sistema de ônibus. Eu levo 15 minutos para ir de carro. Precisaria pegar 2 ônibus para o mesmo percurso e gastar mais de duas horas para ir e 2 horas para voltar. Infelizmente não compensa.
Bolsas de estudo difíceis de conseguir - Se você não pertence a nenhuma minoria, se não é negro, hispânico, mulher, mãe solteira, asilado, militar, pobre, entre outros, é difícil conseguir bolsas de estudo. Mesmo sendo um aluno exemplar as bolsas são dadas primeiramente a americanos das minorias acima (todos os cidadãos inclusive porto-riquenhos ou portadores de Greengard), depois “se sobrar” para estudantes internacionais.
Financiamento caro - O governo financia 100% dos estudos para cidadãos, inclusive material escolar, estadia, alimentação e seguro saúde. No entanto todos têm que pagar. Faculdades e Universidades públicas aqui não significa gratuita (não se fala nem se escreve gratuÍta), mas o governo financia com juros baixíssimos e sem burocracia, uma vez que o aluno foi aceito pela escola. Por isso é possível uma pessoa pobre fazer medicina, se quiser. Mas, para estudantes internacionais o financiamento só vem de bancos com juros altos (embora mais baixos que os do Brasil). No entanto, fáceis de conseguir se sua família tem bom salário no Brasil.
Material escolar caro - Tudo na loja da faculdade é muito caro. Livros custam em média 200 dólares. Eu compro os meus usados na Amazon.com ou empresto de estudantes que estão em trimestres mais avançados. Essa é a vantagem de ser uma pessoa educada e gente finíssima como eu. Fiz muitos destes amigos nos eventos da faculdade ou dando ajuda para pessoas com dificuldades em matemática. Por isso, quando preciso de livros, corro pedir emprestado. Faz já um ano que não compro nenhum.
Inglês escrito - O inglês acadêmico é completamente diferente de tudo o que se estudou de inglês no Brasil. Todas as matérias têm apresentações em Power Point, redações e projetos que têm que ser escritos no formato MLA (Modern Language Association). No princípio foi muito difícil, tive que esquecer o que sabia, e começar tudo novamente.
Lei de plagiarismo rígida - Prós para uns (como eu), contra para outros. Só está aqui por que me lembrei agora. Todas as redações são submetidas eletronicamente e um programa de computador analisa a porcentagem de similaridade entre a sua redação e tudo o que existe na internet e no banco de dados da faculdade. Até 24% é considerável aceitável (porque quando se faz citações de textos famosos o programa reconhece). Se der 100% significa que você entregou a redação de outra pessoa. Neste caso o aluno é expulso e plagiarismo fica no histórico escolar dele para sempre. Um garoto da minha sala que comprou na internet um trabalho e o submeteu foi expulso no ano passado. Todos morrem de medo disso. No início do curso, um vídeo foi mostrado com um número enorme de pessoas, jornalistas, escritores, editores e outros americanos famosos que foram pegos em plagiarismo e perderam seus empregos ou tiveram suas carreiras arruinadas (é claro, tudo foi provado). Então esqueça o “copiar e colar” da internet. Tem que escrever tudo nas suas próprias palavras, mesmo assim, se as idéias forem de outros e as fontes não foram citadas (no texto) ainda é considerado plagiarismo. Não é só escrever nas suas palavras que está bom. Tem que tomar um cuidado desgraçado...
Abuso da tecnologia - No verão morre-se de frio dentro da faculdade por causa do ar condicionado e no inverno, passa-se calor.
E por último, tenho que dizer infelizmente...
Racismo - Existe um racismo muito forte nos EUA. Americanos negros e hispânicos se ressentem muito do americano branco e todos são atacados, mesmo sem motivo. Estes se comportam muito mal nas aulas e nas dependências da faculdade, como se desafiassem alguém a dizer a alguma coisa porque a lei os protege. Em aulas onde o professor é branco eles desafiam a todo o momento a paciência e autoridade do professor e dos outros alunos. Em aulas onde o professor é negro ou hispânico, eles tornam-se santos. Ouvi de uma professora negra que eles irritam de propósito e depois se fazem de vítima dizendo que foram vítimas de racismo. Ela ainda me disse "É provado, sabia?" Quando você faz um ótimo trabalho, a maioria dos alunos americanos brancos elogiam e até pedem ajuda. A maioria de negros e hispânicos tentam encontrar qualquer falha e pouquíssimos tem um elogio sequer a dizer. Não gosto de generalizações, mas tenho prestado muita atenção a isso (há exceções, é claro, e ao norte "dizem" que é bem diferente). Para quem foi criado no Brasil e que não sentia isso na pele, é difícil ser maltratado por ser branco (ou branquelo como já fui chamado). Também são a grande maioria dos que não entregam trabalhos e lições. Chegam atrasados, reprovam e sempre estão metidos em confusões. Mas a culpa nunca é deles...
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Isso aqui é um problema |
- Trabalho final de Interior Design I para converter uma casa comum em um projeto sustentável