A síndrome do ex-namorado

Quando eu tinha quatro anos aproximadamente minha mãe divorciou-se de meu pai e um ano depois casou-se com um dentista. Não demorou muito e estávamos de mudança para o Rio de Janeiro (1976) onde, o marido da minha mãe, arrumou um novo emprego. Somente um ano depois já estávamos de mudança novamente. E desse jeito vivemos pelos próximos 10 anos aproximadamente. Moramos em 6 cidades diferentes e dentro dessas cidades mudamos de casa duas ou três vezes!

Eu sempre perdi todos meus amigos que fiz na escola e no bairro. Em uma época em que se tinha que ir ao correio comprar selo, envelope, se quisesse se comunicar com alguém, foram poucos os amigos que mantive contato por um tempo. Sempre vivi com saudades. Acho que se fosse hoje, com internet, correio eletronico, google earth, tudo seria diferente.

Por sempre viver montando ou desfazendo a mudança, não foi difícil mais uma vez largar tudo no Brasil e novamente começar do zero em outro lugar. Parece que eu já nasci “dando tchau” sabe? Não fico muito tempo num lugar só.

Mas recentemente, tenho me sentido confuso com respeito ao Brasil. Sempre falo a todos que amo o Brasil (me referindo ao povo brasileiro e a alguns lugares) mas que o Brasil não me ama (me referindo ao governo brasileiro que trata mal o povo brasileiro). E ontem eu li um texto muito interessante no site Brasil com Z. O texto é da Cláudia Lordao que vive em Adelaide-Austrália. O texto chama-se "A sindrome do ex-namorado". Ela conseguiu, em poucas linhas, explicar o sentimento de alguém que, insatisfeito com as condições de vida no Brasil, resolve dar as costas à "pátria amada" e tentar a vida em um lugar melhor. Mas o sentimento sempre fica. Abaixo vai o texto na íntegra:

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A síndrome do ex-namorado

“Este mês vai completar 3 anos que vim morar na Austrália. Ainda não fui visitar o Brasil e volta e meia sofro o que chamo de síndrome do ex-namorado.

Você que terminou o namoro, mas agora não lembra direito o porquê. Só consegue pensar em como o seu ex era divertido. E sexy. E bonito. Resolve ligar pra ele, pede pra voltar e em menos de 1 semana – putz – você lembra perfeitamente a razão de ter terminado. Você sabe! Com ele, nunca vai dar certo!

É assim que às vezes me sinto em relação ao Brasil. Porque estou longe, porque sinto saudades, volta e meia esqueço porquê decidi ir embora do meu próprio país.

Quando a síndrome do ex-namorado bate, não consigo me lembrar do pânico que sentia ao dirigir pelas ruas do Rio. Esqueço que não parava mais em sinal de trânsito, pois podia ser assaltada. Esqueço que não aguentava mais a corrupção e a impunidade que infelizmente assola o nosso país. Não lembro das crianças dormindo nas ruas, dos tiroteios… esqueço totalmente como a desigualdade social é gigantesca no Brasil. Esqueço como vivia estressada e correndo e com medo o tempo inteiro.

A síndrome do ex-namorado é um fenômeno real, que assola muitas das brasileiras que vivem por aqui. Fazer o quê?

A verdade é que, pra mim, o Brasil será sempre meu eterno namorado, o meu primeiro amor. Mas não adianta fantasiar. Eu sei muito bem porque “terminei” com ele.”

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Eu ainda estou com raiva da ex-namorada (Brasil) e encantado com a nova namorada (EUA). Ainda não consigo esquecer-me da violência, do medo constante de assalto, das grades nas janelas e dos altos impostos que levavam quase todo meu dinheiro no final do mês. Mesmo assim, como disse bem a Cláudia, o Brasil está dentro de mim, mesmo contra minha vontade, mesmo sabendo bem porque eu “terminei” com ele...