Em 2011, quando eu ainda estava na faculdade, fiquei imaginando como seria viajar para projetar uma residência em outro estado ou até em outro país. Em seguida eu pensei, "puxa, vai demorar muitos anos para isso acontecer, se é que isso um dia irá acontecer". E não é que aconteceu? Um cliente de cada vez, uma indicação atrás da outra e esses clientes brasileiros, dos quais eu já projetei e decorei 2 imóveis em Orlando, me chamaram para decorar o apartamento deles em Nova Iorque.
Mas alguém que lê um post como este pouco sabe do árduo caminho até aqui. Não é sem uma boa dose de sangue, suor e lágrimas, que se consegue cursar uma faculdade no exterior, em outra língua, trabalhando em empregos informais (detesto o termo sub-emprego, pois aqui todo trabalho é trabalho, seja qual for), como limpeza, pintura, motorista, babá, arrancador de papel de parede e outros, e ainda por cima, arrumar tempo para assistir às aulas, estudar para exames, ler textos técnicos, fazer trabalhos, preparar apresentações e ainda cuidar da vida, já que nos EUA, cada um lava e passa a própria roupa suja. Na verdade, pouca gente passa roupa nos EUA, mas isso é outra história.
É preciso ralar e ralar muito se quiser vencer no país dos outros. Se alguém não gosta de trabalhar ou estudar no Brasil, aqui não vai chegar muito longe. Mesmo os alunos americanos na faculdade que não faziam os trabalhos, não estudavam para as provas e em seus Facebooks estavam sempre em festas nos finais de semana, a maioria que eu conheço, nem mesmo está trabalhando na área. Ou está desempregado ou trabalhando em lanchonetes ou algo do gênero.
Mesmo hoje aqui em Nova Iorque, em um hotel com todas as despesas pagas, a vida de Designer de Interiores não é glamourosa como possa parecer nos programas da HGTV. Nova Iorque é fria no inverno. Sob temperaturas negativas, neve e chuva, andamos kms todos os dias atrás de coisas, compras, entra e sai de taxis com sacolas e depois passamos o resto do dia no apartamento cheio de caixas ainda por desembalar. Mas é gratificante. A cada cômodo terminado, o sorriso dos proprietários nos dá um senso de satisfação e dever cumprido. É muito bom quando seu trabalho faz a vida das pessoas mais segura, confortável e bela, por causa dos interiores que criamos. Afinal o lar é lugar onde passamos a maior parte da nossa vida nesse planeta, então tem que ser um local prazeroso.
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Passamos boa parte do tempo ajudando os clientes amigos a
desempacotar |
Meus clientes foram transferidos para trabalhar em Manhattan e desde que receberam a notícia, entraram em contato para que eu pudesse ajudá-los no design do apartamento. Quase toda a mobília foi trazida do Brasil, junto com as roupas e objetos pessoais. Quando chegamos no apartamento, a primeira coisa que fiz foi desenhar e tirar as medidas do apartamento. Depois disso começamos a desempacotar as caixas e separar todos os quadros, acessórios e objetos de decoração que a família adquiriu durante a vida toda e trouxeram aos EUA. Segundo eles, muita coisa foi parar no lixo, mas olhando a quantidade de coisas, é difícil acreditar :-) .
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É essencial medir as paredes antes de ir à loja de móveis ok?? ;-) |
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Separando o que o cliente trouxe do Brasil já começamos a
montar uma colagem no chão que transferimos para a parede
aonde vai o sofá maior da família |
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Os quadros com fotos do proprietário foram então transferidos para a parede. |
Hoje é o quinto dia dos 9 que passaremos em Nova Iorque. Os dias de trabalho são de, pelo menos, 9 horas com uma pausa para almoço. Muitas idas e vindas a LOWES e outras lojas de departamentos, debaixo de chuva, neve, vento para comprar diversas coisas, desde parafusos a almofadas. Mas o apartamento está saindo. É um desafio conciliar as peças já existentes trazidas do Brasil com o "look" Novaiorquino que pretendemos dar ao apartamento.
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Debaixo de chuva às vezes paramos por 5 minutos
pois não é pouco o que se anda nessa cidade. |
E como é a primeira vez que venho a Nova Iorque a trabalho (vim outras 4 vezes a passeio), reparei em várias coisas que nunca tinha percebido quando aqui estava a turismo. E para quem gosta de saber sobre curiosidades aí vai algumas:
- Novaiorquino anda rápido, mal fala ou olha pra alguém na rua.
- As pessoas fazem tudo na rua (ou fora de casa). Trabalham (é claro), comem, lavam suas roupas, se encontram com amigos, etc. Quase ninguém cozinha em casa, lava roupa em casa, etc. No prédio do cliente, um homem saiu com umas roupas sujas nas mãos, sem sacolas mesmo e levou à lavanderia no outro lado da rua.
- Nova Iorque é a cidade que mais tem cachorros por habitante. O que tem de gente passeando com cachorro não está escrito nos gibis. E, a grande maioria, muito bem tratados. Dá pra perceber que os Novaiorquinos amam seus cães e há uns bem grandes que vivem em apartamentos e passeiam com os donos 3 a 4 vezes por dia.
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Cachorros grandes moram com os pais dentro de apartamentos
Caminham de 3 a 4 vezes por dia
E pra quem pensa que é judiação ter cachorro em apartamento, é muito pior
deixá-los no quintal sozinhos expostos às intempéries.
Só depois que vim morar nos EUA percebi como nós brasileiros somos egoístas
e maldosos com estes animais. Queremos tê-los, mas os deixamos fora de casa.
Agora os meus só ficam dentro de casa. O americano em geral tem paixão
por animais de estimação e cuida deles muito melhor que nós.
Desculpe o desabafo...
#prontofalei |
- Novaiorquino é corajoso. Debaixo de uma neve e ventos fortes as ruas estavam lotadas de gente andando rápido, trabalhando, sem se importar com o tempo. Sempre andando apressado com uma mochila e um copo de café em uma das mãos. Veja a neve e o vento forte que enfrentamos para ir comprar parafusos :-)
- Nos taxis de Nova Iorque pode se pagar com cartão de crédito, sem senha, sem assinatura e ainda há a tecla para o "tip" (gorgeta) entre 20, 25 e 30%, que, uma vez escolhida, é adicionada ao valor da corrida. Se quiser recibo, o motorista imprime na hora.
- Andar de taxi em Nova Iorque é relativamente barato. Da Lowes até o apartamento que são umas 10 quadras, a corrida sai, com a gorgeta, por volta de 7 dólares.
- Os assentos em cafés e restaurantes não são muitos, pois as pessoas pegam o que precisam e vão para a rua.
- Escuta-se línguas estrangeiras a cada minuto que se anda na rua.
- Se alguém levantar uma sacola pra você vai pedir uma gorgeta. Aqui ninguém faz nada de graça.
- A cidade está constantemente em obras. Houve-se som de sirenes ambulância, polícia e buzinadas a todo o momento.
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Mesmo assim é linda no inverno |
- Não sei porque, mas alguns prédios de escritórios ficam com as luzes acesas a noite inteira.
- Há um Starbucks em cada esquina.
- Nos prédios, em todos os que entramos, inclusive no nosso hotel e no prédio do cliente, não há o andar número 13. Supersticão pura!
- As ruas são sujas, muita lixo se acumula nas calçadas.
- Há muitas lojas de pizza na cidade. A pizza de Nova Iorque é muito melhor do que a da Flórida.
- Metade de todas as pessoas nas ruas estão olhando para o seu telefone. Ninguém tem medo de que ele seja, subitamente, arrancado das suas mãos.
Por enquanto ainda não temos muitos cômodos prontos, ainda há muito trabalho a fazer, mas deixo aqui algumas fotos. Uma vez o apartamento pronto, eu colocarei as fotos no blog.
Um abraço a todos!!
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O primeiro cômodo completamente terminado, o escritório/guest bedroom
Objetos e acessórios todos trazidos do Brazil |