segunda-feira, 27 de maio de 2019

Investimento para Aposentadoria

          Minha mãe, falecida, que Deus a tenha, nos preparou muito bem para vida. Ensinou-nos desde pequenos a limpar, cozinhar, lavar roupa, faxinar, pintar, consertar, etc. E olha que não é tarefa fácil manter uma casa esterilizada com 4 filhos pequenos, mas ela sabia ser persuasiva. Também havia uma coisa que hoje já não se usa mais, a chamada "cinta", muito convincente por sinal. No entanto minha mãe era bipolar, diagnosticada somente no final da vida. Se alguém é ou conhece alguém que seja sabe o quão difícil é viver com uma pessoa assim. Duro pra pessoa, duro pra quem vive com ela. A vida é uma montanha russa. Uma hora tem-se o bastante mas o bipolar dá cabo dos recursos rapidamente e outras horas tem-se nada, absolutamente nada e, por diversar, nem o que comer.

             Essa infância saudável, inseriu em mim um medo (e não sei até que ponto saudável) do futuro. Eu sempre acho que "pode ser que falte". E como eu tenho esse medo dentro de mim, há aquela desconfiança de que eu não vou receber meu cheque da aposentadoria quando chegar a hora. Veja a Louise por exemplo (minha ex-sogra). Trabalhou a vida inteiro em bancos. Se aposentou aqui nos EUA aos 70 anos e recebe um cheque do Seguro Social (INSS aqui) de 1000 dólares mensais. Se não fosse por mim e este cheque nem casa para morar ela tinha. Por esse motivo, eu quero investir por mais esse resto de anos que me sobra até a aposentadoria para poder complementar esse cheque maravilhoso de 1000 dólares que eu também vou receber, se é que vou. 

            Resolvemos comprar um apartamento para alugar em um condomínio super concorrido aqui no bairro que eu moro. Não por ser chique nem nada. Na verdade é bem simples, mas a tranquilidade e os vizinhos são excelentes. Compramos um mais estragadinho pois conseguimos um desconto bom, porém sabíamos que precisávamos reformar pois estava do mesmo jeito desde a década de 80. Veja as fotos:

















          São 2 quartos, 2 banheiros, sala, cozinha, lavanderia e varanda em 90m². A planta original é muito esquisita e mal distribuída. Tínhamos a opção de simplesmente trocar tudo por coisas novas mas quem me conhece sabe que eu não faço nada pela metade. Se vamos reformar, vamos reformar. Mal sabia eu o que estava prestes a acontecer com minhas lindas noites de sono...

Aqui a planta original do apartamento:

Planta original fornecida pelo condomínio
            Veja o banheiro do quarto master por exemplo. O chuveiro tina 60cmx60cm. Uma pessoa gorda não entrava dentro dele. E aquele closet e pequeno corredor dentro do banheiro, pra quê? O quarto gigante e um banheiro apertadíssimo. Aqui as fotos:

O quarto tão grande que tem espaço morto

Não dá pra por um secador de cabelos nessa pia

Esse chuveio foi a piada do ano, da década não é?
         Depois de queimar bastante meus neurônios cheguei a uma planta que eu gostei e que era possível fazer:

1- Remover a parede da cozinha, mover a geladeira, transformar o closet de casacos (quem usa casaco na Flórida?) em dispensa, suspender o teto da cozinha.

2- Diminuir o quarto master (mas manter espaço para caber uma cama king com dois criados) e aumentar o banheiro e closet eliminando pequenos closets dos dois banheiros.

3- Mover o aquecedor de água para um dos closets do segundo banheiro para criar um chuveiro digno de master bathroom.

4- Trocar pisos, eletrodomesticos, portas e janelas.

         Fácil não é? Sim se não fosse a HOA (Homo Owners Association). Quando apresentamos essa planta para a associação dos moradores eles disseram: "Não PODE..." Não pode o quê? "Não pode tirar a parede da cozinha, não pode aumentar o chuveiro, não pode mover o boiler, não pode, não pode, não pode".

            Bom quem me conhece sabe que eu não aceito não como resposta sem justificativa. Não pode porque? Ah, vá falar com o comitê de arquitetura. E eu fui. Mas só depois de 3 semanas eles se reuniam para decidir os pedidos de projetos. Fui na reunião. Mostrei minha planta e disse o que queria fazer. Me identifiquei com Interior Designer licenseado na Flórida que até deu um "ar" de respeito, mas eles disseram: No entanto precisa de um engenheiro, isso está acima das suas capacidades. Porém, o bando de ignorantes do comitê não contavam com essa. Eu sou engenheiro formado no Brasil. 

             "Eu sou engenheiro também" - ao que todos olharam com cara de espanto. "No entanto, minha licença é do Brasil, não tenho licença na Flórida, mas posso dizer que a reforma é totalmente possível", ao que eles responderam: "Precisamos de um laudo de um engenheiro estrutural americano". ok...

              Lá fui eu atrás de um engenheiro estrutural pois nem em um milhão de anos eu ia deixar eles ganharem essa. Achei o engenheiro, ele foi lá e chegou às mesmas conclusões que eu. Pagamos 600 dólares para ele fazer um laudo que eu "esfreguei" na cara do comitê de arquitetura. Nem preciso dizer que a este ponto, tanto a HOA como o comitê, sentiam um profundo desprezo por mim e pelo Alex. Com um nó na garganta, na reunião da HOA, em frente diversos outros proprietários eles tiveram que dizer "Ok, você pode dar início à reforma". 

              Começamos a demolição só para sermos autuados pela HOA em 2 infrações: Colocamos um "dumpster" caixa de entulho no estacionamento (que é proíbido) e não tínhamos as licenças de demolição. Licença de demolição? Oi? Sim, porque duas paredes iam ser movidas, precisávamos da licença de demolição (que absolutamente ninguém tira). Porém a HOA ligou para a prefeitura e nos denunciou. Em dois dias tínhamos um inspetor da prefeitura dentro do apartamento e eu tive que me fazer de desinformado. Disse pra ele que não sabia ao que ele respondeu que tudo bem, tire uma amanhã na prefeitura, não vou te multar por isso. 

              Qualquer coisa que se pede à HOA eles são extremamente lentos em responder e providenciar. Mas para ligar na prefeitura, perguntar se tínhamos as licenças e nos denunciar, foi coisa de horas.

                Tiramos nós mesmos todas as licenças na prefeitura (que demorou 1 mês) e começamos os trabalhos depois de 60 dias aproximadamente.

Aqui vão algumas fotos do apartamento demolido:






Aqui já se vê onde a nova parede do quarto seria aumentando o banheiro e o closet



         Entre problemas comuns a obra, orçamentos altíssimos pra coisas como mudar o boiler de lugar. Atrasos, gente que fala que vem trabalhar e não vem, coisa mal feita, refazer outras conseguimos terminar e reforma em 60 dias e 45 mil dólares depois. No orçamento original eu achei que gastaria por volta de 35 mil, porém já sabemos como são as reformas. 

           Optamos por pintar os gabinetes originais em vez de gastar mais 10 mil em novos gabinetes. Com o dinheiro que economizamos colocamos quartz na cozinha em vez de granito e tudo foi trocado, inclusive ar condicionado. Valeu a pena?

            Sim, o censo de realização, de ter vencido a briga contra a HOA e o comitê de idiotas, posso dizer que valeu à pena. Talvez financeiramente não. Em alguns anos talvez. No momento ele vale o que gastamos, se vendêssemos agora não tiraríamos um centavo de lucro, mas quem sabe em alguns anos. Porém vender nunca foi o obtjetivo. Também no valor do aluguel talvez não tenha valido tanto a pena. Meu cliente porém disse que sim. Do jeito que estava conseguíamos alugar por USD 1,300.00 no máximo USD 1,350.00. Com muito receio eu coloquei ele no mercado para alugar por 1,700.00 e já tem 7 pessoas na fila para alugar. Agora tem que passar pelo processo da HOA pois a HOA não aceita no condomínio pessoas:

- Ilegais.
- Que têm antecedente criminal, mesmo se resolvido.
- Com histórico de despejo.
- Com Credit Score menor que 650 pontos.

Mas estamos no caminho. Em até 2 semanas já vai estar alguém morando no nosso apartamento e quem sabe, quando eu aposentar, vou poder contar com um cheque a mais. Agora vamos economizar por mais um tempo para comprar outro e tudo começa outra vez. Porém como uma reforma menos ambiciosa...



A planta antes e depois


Aqui vão as fotos do apartamento reformado:
























Aqui o novo master, novo closet e novo banheiro





















Quarto n. 2, banheiro e lavanderia






















Um grande abraço a todos!

Se quiser adquirir um apto desses para investimento entre em contato. Se quiser reformar ou decorar posso te ajudar também.

Renato Alves

Studio R Interior Design Inc
Uno Realty Group
emails:

renato@unorealtygroup.com
studiorinteriordesign@gmail.com
tel whats: +1-407-808-1878

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Coisas Que Eu Não Faço Mais

   

      Como eu acredito que os leitores desse blog (se é que alguém ainda lê blogs) estão cansados de ler sobre design, decoração e reformas e também porque eu não encontro com facilidade temas sobre os EUA (afinal eu já escrevi 350 posts sobre o assunto), resolvi escrever sobre coisas que acho importantes. Em primeiro lugar porque gosto de escrever e também porque acho que pode ser de utilidade pública. 

           Antigamente eu aceitava qualquer convite que me era feito e comparecia. Mas chega uma certa idade que a gente já não faz algumas coisas que fazia e por certos motivos. O DNA (data de nascimento avançada) já não permite e em outros casos porque é um pé no saco mesmo, de qualquer um. O nosso físico já não reage à geografia como antes nem às intempéries. O frio causa dor, o sol queima a cabeça (como no meu caso), dá câncer de pele. O calor traz cançaço e por aí vai. Não que eu me considere velho, afinal 50 anos hoje é o 35 de antigamente, mas eu sei as minhas limitações e até onde vai a minha paciência. Por isso resolvi escrever esse post como um lembrete à mim mesmo das coisas que não faço mais. Porque não quero ou porque não posso.

N.1 - Acampar. Eu sou casado com um americano que já foi escoteiro nos EUA por muitos anos, até quando adulto. Acampar, fazer fogo no meio do mato, são coisas que ele sabe fazer e gosta muito. Qual a minha resposta quando ele me convidou para acampar com seus amigos? "Vá com Deus!" Quem em sã consciência vai deixar o conforto da sua casa para dormir no meio do mato, em uma tenda, fazer necessidades ao ar livre e comer enlatado requentado sentado no chão? Por favor né? Tirando os israelitas que acamparam por 40 anos quando saíram do Egito (eu teria durado 1 ano ou teria voltado à pé sozinho) e os refugiados da Síria quem é que encara uma coisa dessas? Pra mim não obrigado. Eu saio da minha casa para ficar em um lugar que tem cama, ar condicionado, uma mesa e uma cadeira para comer e um chuveiro para tomar banho. Se não for assim, não saio de casa. 

N.2 - Formaturas. Quem tem que ir em formaturas são os pais, avós e irmãos. Como meus irmãos já estão formados e não tenho filhos, estou fora dessa. Ou como eu sempre digo "me inclui fora dessa". Tivemos que ir nesse final de semana à cidade de Abilene no Texas para a formatura da sobrinha do Alex. Foi uma tortura e por isso eu me inspirei a escrever este artigo. É lógico que foi bom conhecer o Texas, essas cidades que ainda conservam às ruas da época do velho oeste americano e tals, mas enfrentar uma multidão em um ginásio e ouvir os discursos de professores e alunos é uma tortura. Nunca mais! Aliás isso me lembra outra coisa.

N.3 - Eventos com multidão. Shows em parques, ginásios ou estádios, Brazilian Day, Dine and Wine do Epcot, não vou mais. As pessoas deveriam estudar as formigas para aprender a como se comportar no meio de 1000 de seus semelhantes. Ainda não sabem então não contem comigo. O que nos leva ao quarto ponto que tem motivos semelhantes:

N.4 - Parques temáticos. Meus hóspedes já sabem. Não vou, não levo, não busco, não quero ouvir a respeito. Para levar alguém à Disney, da minha casa leva uma hora só pra ir. Depois tem o engarrafamento perto do ponto de entrada e mais o mesmo tempo para voltar e tudo de novo para buscar. Venha com dinheiro para alugar um carro ou pegue um Uber. Em dez anos morando aqui já fui muitas vezes mas não pretendo ir mais. Talvez no Animal Kingdom para ver os animais uma última vez (primeira e última). Não dá. Ficar 1-3 horas em pé em uma fila esperando para entrar em uma atração que vai durar 3 minutos é matematicamente sair no prejuízo. E ainda tem que enfrentear a multidão que é o ítem 3. Pra quê eu vou sair do conforto da minha casa, da companhia dos meus amados cachorros, do ar condicionado para enfrentar uma multidão de 10 mil pessoas dentro de um parque temático?



N.5 - Sair com pessoas que sempre estão atrasadas. Atrasos acontecem, eu sei. Eu mesmo já me atrasei muitas vezes. Mas para alguns é um hábito e para o brasileiro especialmente, observo que é algo de pouco valor a pontualidade. Entre os americanos, por exemplo, um churrasco tem hora para começar e para terminar. É esperado de você que chegue um pouco depois do horário marcado e que vá embora antes do horário final. Os convites já vêm com horário do começo e do fim e eles são bem diretos (eu observo aqui em casa), quando deu a hora, o Alex fala aos seus convidados abertamente e para minha total surpresa: "Excelente, obrigado a todos por terem vindo mas está na hora de nós nos recolhermos". Eu achei que depois dessa esses amigos nunca mais apareceriam. Pelo contrário, todo mundo achou mais que normal. É ruim esperar por qualquer coisa ou por qualquer um e se eu percebo que é um hábito, já corto. Quem pretende chegar no horário, sai de casa com antecedência. Por educação e por respeito também ao tempo do outro que te espera. 



N. 6 - Batizados, Chá de Bebês e festa de aniversário de criança. Eu gosto muito de crianças - educadas. Já fui professor por 13 anos e meus sobrinhos já são adultos. Não vou ter filhos nem tampouco netos. Portanto já cumpri a minha cota sem sequer receber 1 centavo de auxílio insalubridade. Os americanos ficam abismados com a produção dos aniversários de crianças brasileiras aqui em Orlando. Tem bufê, manobrista e algumas me disseram até animadores. Tem misericórdia! E olha que, às vezes, a criança até repetiu de ano e fala palavrão.



N.7 - Velórios e casamentos em outro estado ou país. Já fui várias vezes, hoje até meu pai já sabe. Eu vou visitá-lo enquanto ele estiver vivo. Quando ele falecer não vou. Vou fazer uma oração por ele e desejar que ele tenha ido para um lugar melhor, seja esse qual for. Com uma fração da passagem de avião, eu mando um bom presente de casamento. 

N.8 - Lugares barulhentos onde não dá pra conversar. Restaurantes de Sports aqui em Orlando com 30 televisores no volume 50. Churrascaria na hora do pico. Bandeijão e o pior - Shopping Center! Me inclui fora dessa...

E por último - N.9 - Hospedar alguém por mais de 2 semanas. O bom hóspede é esperado quando chega e leva saudades quando vai embora. Mas nem sempre é assim. Quem hospeda tem que estar preparado. Quem vai se hospedar tem que ter ciência do distúrbio que vai causar. Por exemplo, o anfitrião tem que conversar, que preparar refeições, pôr a mesa todos os dias, limpar, aspirar, comunicar as regras da casa, esperar chegar no meio da noite e ser acordado, etc. Há muitos benefícios e eu adoro receber e hospedar, mas já percebi que após a segunda semana já se torna difícil. O ideal é ter alguém em casa por 1 semana ou no máximo por 10 dias. Assim não deteriora a relação de amizade e ambos se dispedem com aquele gostinho de "foi tão bom e passou tão rápido". Um mês? Você não vê a hora da pessoa sair da sua casa...é duro, mas é a realidade. Já vi amizades de décadas terminarem depois de uma visita de 1 mês.

        Acredito que essas sejam as coisas principais. Coisa de velho? Pode ser, mas acredite e tenha certeza. Velho todos ficamos e menos pacientes com certas coisas. Se divertir com outros à fora, sujeito às intempéries às vezes é preterido por um bom filme em casa com bolo e café passado na hora. Nada mais gostoso que um jantar com amigos em um bom restaurante. A gente se despede e restaurante recolhe os pratos lava toda a louça suja. 

          Já me disseram que daqui pra frente só piora. Eu não tenho certeza, mas uma coisa eu sei. Fazer as coisas contrariado e engolir sapo o tempo todo dá câncer. Vive mais quem se aborrece menos e as coisas simples dão mais felicidade. Complicação (de qualquer coisa) encurta a vida da gente. O importante é que façamos sempre o que gostamos e algumas vezes o que toleramos por amor aos outros, mas sempre respeitando nossos limites. E você já fez uma lista das coisas que não faz mais? Compartilhe com a gente, eu ia adorar saber! Abração
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