domingo, 24 de abril de 2011

Páscoa nos EUA


Créditos
Uma coisa que ainda me impressiona é ver as pessoas seguindo as tradições de seus antepassados sem questioná-las em momento algum. A Páscoa é um bom exemplo disso. Por exemplo, alguém se pergunta que relação tem o ovo de Páscoa com o coelho? Bom, que eu saiba, coelho não bota ovos e ainda mais de chocolates! Porque o coelho é um dos símbolos dessa comemoração? E que tudo isto tem a ver com Jesus Cristo?

Agora entendi. É a galinha que bota ovo de chocolate!
Acho realmente que todas as pessoas deveriam pesquisar mais antes de saírem comemorando aquilo que não conhecem. Se bem, que para algumas nações, qualquer festa é um ótimo motivo para se divertir e não importa que tipo de festa seja, mesmo que seja pagã!

Crédito - Origem da festa Junina
Eu fiquei meio intrigado com a Louise outro dia quando ela me disse que na sexta feira não comeríamos carne. Claro que eu respeitei a consciência dela porque a Louise é uma pessoa que faz 99% de tudo direito. Acho digno... E quando fomos ao restaurante, comemos cogumelos e eu pedi um salmão grelhado delicioso. Mas não pude evitar de pensar nas pessoas que conscientes ou não, agem de maneira hipócrita. Respeitando esse costume da igreja mas desrespeitando todos os outros. Como por exemplo, não come carne na sexta feira santa, mas trai o marido. Ou, não come carne na sexta feira da paixão mas maltrata a esposa. Tradição?
De tudo isso talvez a coisa boa é que a família se reúne. Aqui a família se reúne nos três principais feriados para os americanos, a saber, no Thanksgiving, no Natal e na Páscoa. A cada feriado, a mesma família se reúne em uma casa diferente. Eu sinto que eles só fazem isso por causa da avó Loretta. O Robert e a Louise detestam ir à casa da tia na Páscoa que eles chamam de “nasty”.

Eu estava curioso para saber como os ovos de Páscoa dos americanos se parecem. Esta semana fui a vários supermercados e percebi que, ovos de Páscoa como existe no Brasil, aqui não tem. Não encontrei nenhum sequer em nenhuma loja da cidade! Nada de enfeites, nada de ovos. Nem na televisão ouve-se propagandas como estamos acostumados no Brasil. Nas escolas, as crianças pintam ovos de plástivo ou de verdade e os colocam em cestas ao lado de coelhinhos de pelúcia e é só!

Se eu quiser um ovo de chocolate com recheio de sonhos de valsa ou um panettone Balducco eu tenho que ir ao supermercado brasileiro o que eu me recuso fazer. Quem aceita ser mal tratado tem mesmo é que fazer terapia. E como dizem que engolir esses sapos dá câncer eu fico mesmo é longe daquela gente.

E para curar essa vontade de comer chocolates que meu cérebro brasileiro treinado me impõe eu resolvi fazer um bacalhau ao forno como minha avó fazia e testar o paladar dos americanos para este prato típico português. Graças ao Youtube, hoje nada é uma dificuldade e para meu espanto e felicidade, as duas travessas de bacalhau acabaram rapidamente pois cada pessoa repetiu 2 vezes!


Agora, um pouquinho de humor:

- Papai, o que é Páscoa?
- Ora, Páscoa é... Bem... É uma festa religiosa!
- Igual ao Natal?
- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
- Ressurreição?
- É, ressurreição. Marta vem cá!
- Sim?
- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias
depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
- Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?
- O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
- É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
- O Espírito Santo também é Deus?
- É sim.
- E Minas Gerais?
- Sacrilégio!!!
- É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?
- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!
- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos..
- Coelho bota ovo?
- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
- Era... Era melhor, sim... Ou então urubu.
- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né?
- Que dia ele morreu?
- Isso eu sei: na sexta-feira Santa.
- Que dia e que mês?
- (???) Sabe que eu nunca pensei nisso ? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira Santa e ressuscitou três dias depois, no Sábado de Aleluia.
- Um dia depois!
- Não três dias depois.
- Então morreu na quarta-feira.
- Não, morreu na sexta-feira Santa... Ou terá sido na quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!
- Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
- É que hoje é Sábado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
- O Judas traiu Jesus no Sábado?
- Claro que não! Se Jesus morreu na sexta!!!
- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
- Ui...
- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
- Cristo. Jesus Cristo.
- Só?
- Que eu saiba sim, por quê?
- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
- Ai coitada!
- Coitada de quem?
- Da sua professora de catecismo!


(Luiz Fernando Veríssimo)





segunda-feira, 18 de abril de 2011

Pintando Paredes

Três anos atrás quando eu me preparava financeiramente para estudar nos EUA, sabia que no primeiro ano de estudos não poderia trabalhar e que precisava me preparar financeiramente para isso. Ao final no primeiro ano me danei pro escritório do Seguro Social para tirar a carteira de trabalho americana. A senhora gordinha de olhos azuis me informou que nem mesmo após o primeiro ano estudantes sob o visto F-1 podem trabalhar. Estes estudantes só podem aceitar algumas posições no campus da faculdade e para trabalhar, no máximo, 20 horas por semana. Tentei algumas entrevistas por lá mas nunca fui aceito. Motivo? “Over qualified for the job” foi o que eu escutei. Qualificado demais para o cargo. Postos na livraria da faculdade, na recepção, na cafeteria, todos me recusaram...Bom, tive que sacar da manga um plano B.

Plano B?
Claro que nem todos os brasileiros que por aqui vivem trabalham legalmente. Sempre tem aquele empregador que te contrata por baixo do pano “sem papéis” porém, é preciso uma boa dose de humildade ou necessidade para deixar-se explorar por um conterrâneo. E por que eu digo deixar-se explorar? Digo isso porque, enquanto o salário mínimo americano gira em torno dos 8 dólares a hora + benefícios, os brasileiros e hispânicos que contratam por baixo pano sem papéis pagam bem menos que isso e trabalha-se 12 horas por dia, no mínimo.

Outro dia mesmo um amigo meu, Ricardo negou um trabalho em um hotel de brasileiros por um salário de 260 dólares por semana para trabalhar 6 dias na semana, do meio dia à meia noite, inclusive aos domingos. Gente peraí né? E quando é que ele vai estudar e fazer os trabalhos da faculdade? Da meia noite às 6 da manhã? Situação difícil... E ainda por cima o dono do hotel ficou bravo ‘com ele’ porque ‘ele’ disse não?!

Sei que com o tempo, encontrarei algo na faculdade. Ou na época do estágio, espero conseguir arrumar uma empresa que me contrate e eu possa ficar legalmente. Por enquanto...o que eu faço? Eu não faço nada, tô aqui bunitinho esperando. Mas o Ricardo está se virando. Ele tem um outro amigo que arruma uns bicos trabalhos pra ele.

Claro que precisa-se ter humildade também afinal, os trabalhos são sujos e pesados. Sujos não em sentido moral, não me entenda errado, esse meu amigo já está muito velho pra carreira de michê. É sujo mesmo, de sujeira. Muitas vezes limpeza, pintura, tirar papel de parede, limpar apartamentos que os inquilinos deixaram em pé de miséria, etc. Eu sei que é estranho mais eu vou falar. Sabe essa moda que surgiu agora no twitter e facebook? Você fala o que quiser e bota a culpa no @prontofalei. Então vamos lá. Com todas as facilidades e produtos que se têm aqui nos EUA para limpar a casa me parece que muitos não são chegados a limpeza não. São muitos exemplos, não estou falando de 1 caso que eu observei. Aqui, quando cheguei na casa, esta não via uma faxina há 5 anos, da pra acreditar? A última vez que o pai do Robert limpou sua casa foi há 10 anos. E esse meu amigo vê cada coisa nestes apartamentos vazios.

Outro dia ele me disse que ao limpar um apartamento desses que os inquilinos saíram, a geladeira devia ter um milhão de insetos...do lado de dentro! Demorou muito tempo para ele desmontar a geladeira e lavar tim tim por tim tim. Os inquilinos viajaram um certo mês e deixaram a geladeira desligada com frutas dentro. Os insetos das frutas se reproduziram e criaram uma civilização adaptada ao escuro dentro da geladeira. Quando a família chegou, ligaram a geladeira e a civilização foi dizimada. Porém, não se incomodaram em limpar a geladeira e continuaram a usá-la com os insetos mortos dentro dela. Depois se mudaram para sujar outro apartamento @prontofalei
Mas é claro que tem americanos limpíssimos. Já visitei casas limpíssimas como da minha amiga Sarah. Porém a limpeza é diferente da do Brasil. Pode-se ver isso pelo fato que a cozinha e os banheiros não têm ralo. Uma casa inteira não tem ralo do lado de dentro, então nada dessa coisa de sair com balde jogando água, entende? Aspira e passa pano...

O Ricardo nunca teve medo de trabalhar e acredita que qualquer trabalho é trabalho contanto que seja honesto e digno. E o melhor é que paga-se bem na Terra do Tio Sam. Por exemplo, para limpar um apartamento por 3 horas ganha-se 100-150 dólares, ele me disse. Para pintar um quarto que leva-se um dia inteiro, 300 dólares. Bem melhor que os 260 por semana por 72 horas não acha? Um mês aí ele pintou um apartamento inteiro em 2 semanas e ganhou 2.800 dólares. E assim todos os que amam o “american way of life” ou o “american dream” mas que ainda não têm o passaporte da alegria (Green card) vão levando a vida.

350 dólares para pintar sobre o papel de parede. Para tirar o papel de parede
o valor seria pelo menos, o dobro...e o tempo também!

Décadas atrás era um sucesso...



Bem melhor sem o papel de paredes não?

E nem parece que foi pintado sobre o papel de paredes.

sábado, 2 de abril de 2011

Alerta de Tornado

Tudo começou na aula de História do Design na quarta feira de manhã. Mr. Ringhousen quase no fim da aula veio nos dar a noticia de que, no final da tarde esperaríamos uma tempestade em Orlando. Ele disse: “Be sure you stay at home around 5 o’clock”(certifique-se de estar em casa por volta das cinco da tarde). Os alunos da tarde seriam dispensados às 3:30 por conta da tempestade. Nesse dia porém, eu tinha combinado de ajudar a minha amiga Gina a limpar o apartamento para o qual ela muda na semana que vem. Dito e feito! Por volta das 4:45 a tempestade chegou e nós, dentro do pequeno apartamento, observamos o céu negro. Gina perguntou: “Você acha que devemos ir embora?” e eu respondi: “Agora não dá mais, vamos ficar por aqui mesmo”. A chuva caiu pesada e os ventos de 80km/h sacudiram as árvores que deu medo de ver. A luz caiu e voltou diversas vezes mas TV e as estações de rádio anuncioaram que pior viria no dia seguinte, pois no golfo do México uma tempestade maior e mais violenta aproximava-se rapidamente.

Foto tirada por um turista na manhã de 31 de Março de 2011
Chegando em casa às sete da noite, a Louise falou: “Nato (como eles me chamam, porque é difícil pra eles pronunciar RE-nato, então Nato é mais fácil, eles dizem narôu), o guarda sol foi parar em cima da palmeira no quintal. Pensei...of course, duvidando. Chegando no quintal realmente o guarda sol, que estava aberto e usa haste que vai dentro de uma mesa de ferro tinha literalmente voado para a palmeira. Tirei ele de lá com a ajuda da haste de limpar a piscina. Todas as cadeiras da piscina estavam dentro d’água e algumas no meio do gramado uns 10 metros de distância. Coloquei tudo no seu lugar e limpei os filtros da piscina que deviam ter um milhão de folhas.

Na manhã do dia seguinte, 31 de Março (ontem) o Bobby entra no meu quarto e diz: “Don’t get your ass out of the house today” (não bote a ‘cara’ pra fora da casa hoje) e eu, ainda esfregando os olhos achei que ele estivesse brincando. O barulho da chuva no telhado era alto, visto que raramente as casas têm laje de concreto. Levantei, fiz café e liguei a televisão. Tive que acender as luzes por causa da escuridão. No primeiro canal que liguei o Jornal já dizia: “Alerta de Tornado”. Mudei o canal e a mesma coisa, quase todos os canais da TV falavam da tempestade que estava por toda Flórida Central mas que o pico ainda estava no golfo do México. O que isso queria dizer? Que o pior estava se aproximando.

Orlando 10:30 da manhã.

Orlando 11:25 da manhã.
Fiquei realmente impressionado com o sistema de meteorologia. Na TV aparecia, minuto a minuto, a posição da pior parte da tempestade, velocidade de deslocamento de 80km/h e a lista das cidades a quais a tempestade se aproximava e o tempo que cada cidade tinha antes do pior chegar. Instruções eram dadas a todo momento como por exemplo: “Vá com sua família para o centro da casa ou em alguma parte onde o maior número de paredes te separe do lado de fora da casa” ou “esconda-se dentro do closet”. As casas na Flórida raramente possuem “bacement” (porão) por causa do custo da construção. O solo todo da Flórida é areia e a poucos metros da superfície água já aparece então precisaria de um sistema de drenagem e paredes de concreto à prova d’água.

No painel azul à direita a lista das cidades e tempo de chegada da tempestade
Na TV os alertas de tornado expiravam e voltavam a aparecer. Os meteorologistas observavam a tempestade de satélites e ao menor sinal de giro nas nuvens (spining) os alertas de tornado voltavam a aparecer. A tempestade estava a 19 minutos de Orlando e as ruas da cidade estavam desertas. Comecei a ficar com medo. Na cidade de Lakeland, uma hora distante daqui um tornado foi observado “hitting the ground” como eles disseram (atingir o chão) perto de um pequeno aeroporto. O tornado destruiu 40 pequenos aviões no pequeno aeroporto. Milhares de pessoas em várias cidades já estavam sem luz, mas como as temperaturas estavam em torno dos 19 graus ninguém precisou do bendito ar condicionado ou mesmo aquecimento.

Pequeno aeroporto na cidade de Lakeland
O pico da tempestade chegou a Orlando por volta das 11:30 da manhã. Os postes acenderam as luzes e não pareceia que era ainda de manhã e sim 6 horas da tarde. Escuro. Trovões, relâmpagos, luz caindo e voltando e um barulho horrível. O vento fazia um barulho sinistro e as árvores sacudim tanto que eu achei que não suportariam. Como as intruções pela TV diziam “fique longe das janelas” eu realmente fiquei com medo de ficar olhando e de repente um tronco voador me atingisse hehehe Eu sou medroso mesmo! Ou mesmo uma árvore podia cair em cima da casa como aconteceu em várias casas na cidade.




Caiu tanta água que fiquei imginando como as ruas da cidade estariam. Após uma hora mais ou menos, o pior já havia passado por aqui e dirigia-se para o oceano atlântico. Choveu o dia inteiro sem parar até às 8 horas da noite. No dia seguinte, nenhuma nuvem no céu, um dia lindo. As pessoas limparam rapidamente a frente de suas casas e recolheram qualquer pedaço de árvore que porventura tivesse caído. Quarta feira a vida voltou ao normal como se nada tivesse acontecido.

Fiquei imaginando se o motivo disso é porque os americanos estão acostumados a viver em um país em que a mãe natureza não dá a menor moleza e conscientes disso, criaram sofisticados sistemas de prevenção para se proteger. Meu próximo pensamento foi “se isso foi só uma tempestade, como será um furacão?”
Achei esse vídeo do furacão Charlie que passou por Orlando em 2004. É assustador!



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