terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Animais de Estimação nos EUA

   

       Sempre tivemos cachorros em casa. Nós, os filhos gostávamos, minha mãe nem tanto. O lugar deles era no quintal, faça sol ou chuva, frio ou calor. Cachorro não devia entrar dentro de casa, subir na cama, nos sofás, etc. Eu lembro até hoje como nossos cachorros ficavam alí na porta da cozinha e tinham aquele vontade tremenda de entrar em casa e ficar com a gente. Depois, fechava-se a porta e lá eles ficavam esperando até que abríssemos a porta novamente. Durante à noite, dormiam fora de casa, mesmo em um frio de 9 graus, chuva ou que quer que seja. Até mesmo, às vezes ficavam presos em coleiras. Só de lembrar dessas coisas me dá um nó no estômago e muito arrependimento. Só de pensar como éramos ignorantes com respeito a como se deve tratar um animal de estimação me faz pensar bastante. Um animal que te ama incondicionalmente, que é fiel, leal, só tem olhos pra você e a melhor parte do dia dele é quando ele te vê. Existe um amigo tão leal, companheiro e que te ame mais do que um cão só seu? Eu sinceramente não conheço. Quando vejo moradores de ruas com seus cachorros eu percebo que um cão não vê riqueza, beleza ou status social. Ele vê seu coração e se apaixona por você. É um dos únicos animais de estimação no planeta que tem um amor tão forte pelo seu dono que pode dar sua vida por ele.



             Depois que mudei para os EUA comecei a prestar atenção em como os americanos (em sua maioria) tratam os animais de estimação, principalmente os cachorros e gatos. Por exemplo, sabia você que Nova Iorque é a cidade com maior número de cães por habitante do mundo? Exato, cachorros pequenos e grandes vivem em apartamentos e passeiam algumas vezes por dia. Sim, dentro de apartamentos junto com seus donos e não na lavanderia. Estes provavelmente dormem na cama com seus donos ou têm suas próprias camas, até mesmo os sofás.



             O americano tem um coração mais mole para com os cães do que os brasileiros. Cachorro em quintal, preso a coleira, etc é MUITO mal visto nos EUA. É visto como crueldade e depois de um tempo vivendo aqui eu acabei entendendo que é mesmo crueldade. E parece que a cada ano eu fico pior pois não suporto nem ao menos ouvir histórias de pessoas que maltratam animais. As leis protegem os animais de abuso ou negligência. Se maltratar um cachorro em público, pode até mesmo ser linchado, apanhar no meio da rua. 

             Quem lê o blog sabe que eu tenho 3 cachorros. Annabelle(5), Dexter(4) e Elsa(2). Annabelle e Dexter são Cocker Spaniels e a Elsa (a peidorreira - nossa!) é uma Boston Terrier pura. Dá trabalho ter 3 cachorros e manter a casa limpa. Sim, os cachorros vivem dentro de casa comigo e dormem na minha cama sim. Talvez alguém esteja imaginando "a casa dele deve cheirar cachorro molhado". Na verdade, nem mesmo meus cachorros tem cheiro de cachorro e por que? Porque eles tomam banho todas as sexta-feiras. Vários amigos e clientes vieram a minha casa e soltaram o comentário: "Sua casa não tem cheiro de cachorro!?" Claro, porque eu limpo a casa...
Parte da proibição da minha mãe de ter cachorro dentro de casa é porque ela era obsecada pela limpeza. Porém, ela se redimiu...no final de sua vida teve dois cachorros dentro de casa e depois que eles se foram ela teve 5 gatos que eram os amores dela e ficaram com ela até poucos dias antes de ela falecer no hospital. Agora deixe me dizer uma coisa. Essa obsessão por limpeza é uma idiotísse e não ter cachorros ou gatos por causa disso é perder uma grande chance de não precisar tomar diversos remédios. Existem N estudos sobre isso, é só pesquisar. Ter um animal ensina os filhos sobre amor e responsabilidade.  



             Aqui em casa é assim: Cachorrada no chuveiro na sexta feira e roupa de cama toda na lavanderia. Também a casa é limpa na sexta feira. Desse modo a casa não cheira a cachorro nem mesmo a cama. Também eu mesmo quem faço a tosa, corto unhas e limpo orelhas. A veterinária atende na minha casa (que é o mesmo preço da consulta no consultório) e os medica aqui mesmo em casa. Meus cachorros nunca foram a um Pet Shop. Minha veterinária acredita que é por este motivo que eles nunca ficaram doentes. Mas vamos a algumas diferenças sobre ter um cachorro aqui e no Brasil. 

- Existem vários parques de cachorros em uma cidade. Um dog Park é aonde você leva seu cachorro, solta ele da coleira (geralmente são cercados) e ele brinca com outros cachorros. Eu não levo mais os meus pois sempre que voltavam estavam infestados de pulgas e as "meninas" são alérgicas às picadas. Mas se divertiam muito!



- Para se comprar medicamento específico somente com a receita do veterinário. Não é possível comprar injeções e outros sem que o cachorro seja atendido por um veterinário. Alguns medicamentos estão disponíveis sem receita como anti-pulgas, pomadas para coceira, entre outros.

- Há diversas lojas grandes de animais de estimação como a Petco. Lá se encontra de tudo. Não é comum ver um Pet Shop em cada esquina como no Brasil. Os preços são mais baixos que no Brasil naturalmente, mas mesmo assim eu acho caro essas coisas para animais de estimação. Por exemplo, meus cachorros comem a melhor ração americana que existe, a Instinct. O saco de dez quilos custa 60 dólares. No Brasil, eu pagava 90 reais por uma ração que era ruim, mas era o que eu podia pagar. 

- Nos EUA 95% dos cachorros moram dentro de casa com os donos e são como membros da família. Têm até festa de aniversário.

Bo foi o primeiro cachorro a viver "dentro" da Casa Branca
com a família do ex-presidente Barak Obama

- O americano dorme com seu cachorro na cama. Vê-se muito isso nos filmes. 

- Na Flórida é PROIBIDO UM CACHORRO FICAR MAIS DE DUAS HORAS NO QUINTAL SEM SUPERVISÃO. Alguns brasileiros que moram aqui não sabem dessa lei. E por que é assim?
Por causa do calor extremo, do frio extremo e outros perigos como cobras, guaxinins, jacarés, etc.
Se denunciado, o cachorro é retirado da família e entregue a uma foster family que vai cuidar dele até que ele encontre uma família que se "importe". No verão, quando está acima de 40 graus fora de casa, meus cachorros só conseguem ficar fora por uns 15 minutos depois já pedem para entrar em casa. Todas as casas têm ar condicionado na Flórida. Também na Flórida é proibido acorrentar cães no quintal ou mesmo dentro de casa.

- Abrigos de cachorros podem ter temperatura máxima interna de 85F ou 29.5 graus Celsius 

- Há várias coisas que são consideradas abuso e negligência. Pode ser abuso direto e intencional ou simplesmente negligência. Em ambos os casos o animal sofre terrivelmente. Por isso se souber de algum animal nessa situação é só entrar em contato com as autoridades locais como essa instituição. O dono perde a guarda do cão ou gato e esse vai para alguém que cuide e se importe com ele. Deixar o cachorro no quintal ou mesmo preso na garagem (que pode chegar a 60 graus) é considerado abuso e negligência. 

- Gatos que são considerados "inside cats" (que não irão sair de casa) geralmente têm suas unhas da frente tiradas quando pequenos, especialmente se forem criados com cachorros. Isso previne que eles arranhem os olhos dos cachorros em brigas ou brincadeiras e também para não estragar a mobília. Eu não sei se eu concordo com isso como também discordo de cortar o rabo, as orelhas de cachorros. :(

- Existe também aqui o pet sitter, dog sitter, dog walker, etc. Babás de animais que cobram em torno de 35 dólares por 4 a 5 horas e 70 dólares por dia se tiver que dormir na casa em caso de viagens. Há também hotéis de cachorros para o caso de a família ter que viajar e não ter com quem deixar os animais. Em Nova Iorque é comum ver dog walkers passeando com até 8 cachorros de uma vez!


- Há algumas coisas que eu nunca vi no Brasil. Por exemplo, "as meninas" aqui de casa têm alergia a pólen. Toda primavera e parte do Outono têm que tomar cortizona e às vezes antibióticos. Ao cortar a grama elas têm que ficar dentro de casa e a grama molhada antes que elas possam ir ao quintal. Antigamente quando eu não sabia disso elas ficavam no quintal durante o corte e se coçavam o dia inteiro e a noite inteira. Reações alérgicas se seguiam e o veterinário tinha que ser chamado. Uma vez instruído sobre o problema agora, tomo muito cuidado com elas pois fica caro (por volta de 300 dólares) para ter o veterinário em casa e comprar o cortizona e anti-bióticos.

- Na Flórida há uma terrível praga de pulgas. Annabelle se passear na rua onde as casas são todas gramadas na frente, volta infestada de pulgas e dá um trabalho terrível para eliminar todas elas. Elas tomam o Trifexis que é um medicamento para o verme do coração (visto que aqui existe muitos lagos e mosquitos) e também serve para as pulgas. A cada 3 meses a grama do quintal é pulverizada com um veneno para pulgas então o quintal é seguro para elas. Mas os esquilos, que também têm pulgas as trazem de volta ao quintal depois que o efeito do veneno já passou. Por esse motivo meus cachorros brincam no quintal, nadam na piscina, correm etc mas não passeio mais com eles na rua por causa das pulgas. Uma alternativa seria "sprayar" veneno neles antes do passeio, mas o veneno deixa um cheiro forte e não me sinto à vontade passando veneno neles.



- Existe aqui o SPCA (Society for the Prevention of Cruelty to Animals) que é uma organização sem fins lucrativos que cuida de animais abandonados e também oferece tratamento médico a custos baixos. Annabelle e Dexter foram castrados lá e custou 40 dólares por cão. Eles são fantásticos mas é preciso marcar hora e esperar a longa lista de animais que precisam ser atendidos. Há também shelters (abrigos) particulares por todo lugar. Pessoas de bom coração e amantes de animais montam essas instituições e vivem de doações. Eu me voluntariei para trabalhar uma vez por semana em um desses abrigos perto de casa.

         Eu comprei o Dexter e a Annabelle pois sentia muita saudades da minha cadela Alinne que faleceu alguns meses antes de eu vir pra cá. Hoje penso diferente e talvez no futuro, só adote mesmo. Cães trazidos de abrigos têm um amor especial por aqueles que os resgatam e dão um lar. Infelizmente ainda existem pessoas que pegam filhotes pois são "bonitinhos" e depois que crescem os abandonam na rua mesmo ou dão para qualquer um que apareça. Talvez a evolução da sociedade e dos direitos mude isso no futuro, embora abandonar um cão na rua nos EUA é crime e leva à prisão. Que todos nós reflitamos e tenhamos consideração por estes animais especiais que foram colocados nessa terra simplesmente para nos trazer amor e companhia. Um abraço a todos! Au Au Au!

Minha gangue, Annabelle (preta e branca), Dexter (preto) e
Elsa a Boston Terrier.


            

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Oito anos depois...

          Outro dia eu completei 8 anos de EUA. Oito anos que eu saí do Brasil com a minha vida inteira em 3 malas para tentar a vida em outro país. Claro que se tratando de EUA a mudança não parece ser tão radical por motivos simples. Em primeiro lugar nós brasileiros conhecemos bem a cultura americana (ou achamos que conhecemos), aprendemos inglês na escola (ou pensávamos que aprendemos), assistimos aos filmes de Hollywood, ouvimos a Madonna, a Mariah, o Frank Sinatra e achamos que o resto vem fácil com adaptação, já que nós temos uma coisa na nossa cultura que nos faz versáteis, ou seja, nosso jogo de cintura e capacidade de nos adaptar a situações diversas. 

           Por isso, desde o começo do ano, fiquei pensando na minha trajetória até aqui que muitos consideram de tremendo sucesso, mas não sabem os buracos e montanhas que se encontram no caminho. Não tenho o que reclamar, ainda visto a situação do nosso querido Brasil. Nunca me arrependi, mas mudei da água para o vinho. É inevitável uma mudança. Aqueles que não conseguem mudar, voltam ao Brasil decepcionados e talvez rancorosos com os americanos e brasileiros que encontraram por aqui. A verdade é que tudo é muito difícil e vou explicar o por quê. 

           Uma coisa que aprendi nesse tempo que estou aqui é que nunca se deve desperdiçar a oportunidade de ver as pessoas que se ama. Não importa o quão complicada e corrida a vida seja. É preciso arrumar o tempo e o dinheiro. Diga eu, que em 6 anos só vi minha mãe 2 vezes e agora nunca mais poderei falar com ela pois ela faleceu e eu estava aqui, atarefado, atolado em trabalho, tentando arrumar um jeito de melhorar a vida para poder também, trazê-la para cá. Fui traído pelo destino, pelo imprevisto, pela inexperiência. Hoje, sempre que puder, verei as pessoas amadas e falarei a elas o quanto eu as amo, pois um dia pode ser tarde demais. 

             Quando se deixa o país onde se vive, não se deixa somente a família, os amigos, o emprego, a casa, a cidade, os colegas etc. Uma parte de você morre e você nunca mais vai conseguir recuperá-la, pois tudo aquilo que fazia de você quem você era, mudou e mesmo que volte ao país, aquelas coisas que tinha não terá mais. É uma saudade de um tempo que não vai voltar. É uma saudade de quando você vivia lá e era feliz e não se importava com o crime, com a violência, com a alta dos preços e com a poluição. Você saía com amigos, fazia muitos outros, fazia muitas coisas, com pouco dinheiro e se divertia. Coisas simples como uma pizza na casa do vizinho e um filme de video cassete era algo maravilhoso. E se o amigo fosse embora, no outro dia podia-se fazer outros inúmeros amigos pois as regras das relações humanas estavam já dentro de você. Aqui é diferente. 

            Em primeiro lugar os americanos são um povo reservado. Seus amigos são seus familiares e aqueles que eram amigos de infância ou aqueles que fizeram na escola ou na faculdade. Depois é muito difícil desenvolver relações achegadas com outras pessoas. Todo mundo é muito educado, prestativo, mas há uma linha que você não deve ultrapassar. Em 8 anos, converso com meus vizinhos afinal morei aqui na casa de americanos e depois que eles se foram eu comprei a casa deles. Mas nunca fui convidado para se quer entrar para tomar um café na casa do vizinho. Por mais simpático que eu seja, não é rudez deles, é simplesmente o jeito que eles vivem. 

            E depois de tantos anos também não conseguiria mais viver no Brasil pois não me adaptaria à loucura em que vivia anteriormente. Aqui a vida passa mais devagar. Às seis horas da tarde as pessoas já estão em casa e passam o tempo com a família. Os finais de semana são longos e muitas lojas não abrem aos domingos. Muitos supermercados fecham às nove horas da noite. O tempo custa dinheiro e o tempo pessoal é muito valorizado. 

           Pode parecer que eu esteja reclamando mais não estou não. É somente uma outra realidade completamente diferente daquela que se vive no Brasil e tem seus lados bons e ruins. Há coisas que não funcionam, cometem-se erros em todos os setores da sociedade, mas há um certo respeito e medo das autoridades e a maioria das pessoas cumpre a lei e respeita o próximo. 

            A vida é confortável. Tem-se ar condicionado e aquecimento. Os carros custam barato e o combustível também. O dinheiro dá bem para comprar as coisas que se precisa e trabalhando-se bastante até sobra. Há um certo ar de querer ser o melhor em tudo. O melhor biscoito, o melhor detergente de lavar roupas, o melhor tênis, o melhor tudo. E nessa guerra de quem é o melhor e mais barato quem ganha somos nós, sempre. E se reclamar de alguma coisa, é ouvido todas as vezes e atitudes são tomadas para que você fique contente. 

              Colocando na balança, foi a decisão certa para mim. Eu sempre quis ter uma experiência de viver no exterior e só não digo que nunca voltarei ao Brasil porque tenho medo de que, quando se fala isso, se pague com a língua. Eu não tenho certeza se o fato de eu achar que o Brasil tem a melhor comida do mundo é o fato de eu ter crecido comendo aquelas coisas e também com respeito a muitos outros pontos que eu acho positivo com respeito ao nosso país e nossa gente. É claro que vejo os defeitos também pois os defeitos do nosso país e da nossa gente deixam marcas e cicatrizes em qualquer brasileiro. Mas tem-se esse amor por aquilo que te criou, onde você nasceu, pelas pessoas que falam a mesma língua que você. 

            Eu nunca serei americano. Eu nunca vou chorar quando a bandeira americana é asteada e canta-se o hino do país. Não me vem essa sensação. Acho que nunca vou sentir que esse é o meu país, pois a gente sai do Brasil mas o Brasil não sai da gente e não deve sair mesmo. Há estudos que mostram que alguns livros só tocam o coração na língua materna. Somente a língua materna pode te dar certas sensações e por mais que você queira, rir mesmo com vontade até chorar, só vai ser de piadas e situações referentes àquilo que você conhece pois tem um mundo de contexto inserido nisso. Por esse motivo muitos seriados de comédia americanos não fazem o menor sentido e não se consegue segurar o riso quando se assiste o Agostinho de A Grande família ou ao filme O Alto da Compadecida. Como explicar a um americano o sotaque e a forma diferente de o Nordestino se expressar e pronunciar algumas palavras erradas que é tão engraçado, bonito e inocente? Como é que ele um dia verá a beleza disso? Por isso o casamento entre pessoas de nações diferentes é um grande desafio...

             Em nenhum momento até hoje me arrependi de vir morar em outro país. Sinto sim falta das coisas do Brasil. Nem sei quem canta lá mais, os atores, atrizes, músicas, novelas, comédias, etc porque nem tenho TV brasileira. Já fiz outros amigos (muitos amigos, perto e longe), mantenho perto os que ainda cultivam a nossa amizade, aperfeiçoei o paladar, a leitura, os costumes, a rotina. Mas sempre terei saudades do Brasil e se puder, quero visitar mais vezes e conhecer coisas que não conheci quando vivia lá. A melhor coisa no momento é não ter certeza de nada. Não ter nada escrito na pedra e nenhum plano estabelecido para um longo prazo. Deixar a vida me levar, assim como disse o cantor. 
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