A Volta do Vilão

          

          Eu me lembro que, na década de 90, o ovo era o grande vilão da saúde da humanidade. Meu pai (médico) repetia sempre a ladainha “uma gema de ovo tem todo o colesterol que uma pessoa deveria ingerir durante um dia inteiro”. Não que eu estivesse preocupado com colesterol na época, mas ovos sempre foram meu alimento predileto e essa frase me preocupava. Eu gosto de ovo de qualquer jeito. Já pequenino, minha avó fazia “ovo mole” como chamávamos. Quebrava um pedaço da casca e eu comia com colher de sobremesa o “ovo mole”. Nos anos 2000 o ovo volta como o salvador da humanidade. Exatamente... agora pode. Agora a medicina diz que faz bem à saúde, que previne esclerose múltipla entre outras coisas. Ainda bem que eu nunca deixei de consumir. Comentei isso com meu pai que veio com uma revista intitulada “A volta do vilão”. Falei com o Dr. Lair “ainda bem que eu nunca te escutei...” e ele riu, é claro. Ele sempre diz que não há coisa mais perigosa que os médicos do século 20. Aqui vai um desses artigos.

Ovo pode...

          Eu percebo uma fascinação dos americanos por ovos, principalmente no café da manhã. O café da manhã brasileiro é, na maioria, café com leite e pão com manteiga. Indiscutivelmente, é bom e ninguém enjoa. No entanto, hoje em hotéis brasileiros servem-se ovos no café da manhã. Será por causa de turistas americanos? Não sei dizer. Mas aqui não pode faltar. Todos os restaurantes, fast food ou não, têm cardápio de ovos para o café da manhã. Eu demorei um pouco para me acostumar com um café da manhã com ovos. Geralmente, após um café da manhã desses, os americanos só jantam às 5:30 da tarde (pelo menos os que eu conheço), pulando o almoço. É o que acontece aqui com a família nos finais de semana. Toma-se um café reforçado por volta das 9:30-10:00 da manhã e depois janta-se às 5:30 da tarde. Confesso que foi difícil acostumar jantar tão cedo.

Menu do Banana's American Dinner 

          No último domingo o canal Life transmitiu o filme Julie & Julia e eu, é claro, assisti novamente pela terceira vez. Eu ainda compro o livro da Julia Child “Mastering the Art of French Cooking” e farei as 536 receitas menos uma. Lagosta viva na panela eu não faço nem morto. Meu instinto com certeza será de salvar as lagostas e devolvê-las ao mar. Mas o resto faria sem problemas. Após ver o filme fiquei com vontade de comer ovo “poached” e "beef bourguinon". Entrei no Youtube e achei um vídeo muito interessante da verdadeira Julia Child ensinando como fazer um perfeito omelete de café da manhã. Demorou um pouco para ficar igual ao do vídeo. Exige um pouco de prática, mas deu certo após o terceiro ou quarto. Fiz para a Louise no jantar para comer com cachorro quente. Ela perguntou “Cachorro quente com omelete??” e eu respondi “ué?? E porque não? Vocês americanos comem cachorro quente com feijão ou macarrão, por que não com omelete?” Ela disse que tudo bem depois que eu expliquei que era Julia Child’s Omelette (omelete da Julia Child). Depois “babou” na perícia do garoto. Perguntou como eu fiz o omelete e disse que estava delicioso. O segredo é não deixar o ovo cozinhar totalmente. Assim o interior fica macio e saboroso, a textura perfeita, sem gosto de queimado. O processo de sacudir a frigideira demora um pouco para aprender, mas com persistência chega-se ao resultado.

          Obcecado com a história da vida da Julia Child, comecei a pesquisar muito sobre ela e assisti a muitos vídeos. Descobri até que a casa onde ela viveu em Cambridge foi vendida recentemente por quase 5 milhões de dólares. No entanto, a famosa cozinha dela, foi doada “em vida” para o Museu Semithsonian, em Washington DC, que já está na minha lista de lugares que desejo visitar. Julia foi quem ensinou os americanos a cozinhar. Sua personalidade marcante fazia sucesso. O jeito diferente de falar, voz aguda, quase em falsete, conquistou o público e a crítica americanos. Mesmo os acidentes durante o programa não fizeram com que Julia deixasse de ser amada. Quem nunca tentou virar um omelete no ar e não fez a maior sujeira? Como ela mesma dizia “tem que ter coragem e ser destemido para virar o omelete no ar”.

Cozinha de Julia Child no Museu Semithsonian em Washington DC

           A Louise ganhou do filho Jimmy o livro autografado da Giada De Laurentiis e escondeu no quarto dela, mardita. Mas tudo bem, quem disse que eu quero aprender algo com essa magricela e antipática da Giada? Deixa eu comprar o meu “Mastering the Art of French Cooking” que eu me vingo da Louise. Já tenho tudo planejado. Nos dias em que ela recebe familiares em casa, ela geralmente faz questão de cozinhar a sua deliciosa comida sem sal e sem temperos. Em uma dessas ocasiões eu vou aparecer com um prato tão delicioso que vai fazer a comida dela parecer que está em preto e branco e com legendas. Aí ela vai entender que nunca deve-se provocar um virginiano, porque o bicho é tinhoso, engole o sapo, absorve o veneno e o transforma em um plano maligno.

        Pesquisando um pouco mais sobre os ovos, achei outro vídeo da Julia Child somente sobre ovos. Esse vídeo é de quase trinta minutos.

Muitos dos ovos abaixo Julia ensina neste vídeo

Poached eggs é cozido na água. Não pense que é fácil...

Scrambled eggs (ovos mexidos)

Já experimentou a "French Toast" americana? hehehe
É uma delícia...mas é o equivalente a 24 horas de
esteira :-(

Eggs Benedict é um prato comum de café da manhã nos restaurantes.
Trata-se do Poached egg com presunto sobre English Muffins
e um molho especial...eu experimentei, mas foi no jantar :P

Eggs on toast

Egg on toast a gente faz aqui em casa depois que eu recebi
um número da Food Network Magazine. 

Egg Cup - o "ovo mole" que minha avó
fazia pra mim quando eu tinha 4 anos...

Para terminar um vídeo show que mostra todo o talento de Meryl Streep...Coragem
na hora de virar o omelete!!

Bon Appetit!!